domingo, novembro 20, 2011

COMO COMPREENDER UM BIÓLOGO



É raro, mas vez por outra encontramos textos anônimos interessantíssimos na internet. Hoje decidi compartilhar uma dessas jóias com os meus visitantes. Tudo indica que a mesma só pode te sido redigida por um(a) biólogo(a) apaixonado(a) pelo seu trabalho. Ele não é novo e já rodou praticamente toda a rede, mas fica aqui para os que ainda não o conhecem.
Sendo apenas realista e sem querer puxar a brasa para a nossa sardinha, afirmo sem medo de errar que ser biólogo é muito mais do que uma simples profissão ou fonte de renda – mesmo porque em se tratando de renda na área das ciências biológicas e mesmo da ciência de um modo geral no Brasil a coisa é decepcionante, pra não dizer desesperadora. É um estilo de vida. Um biólogo (ou ao menos um biólogo de verdade) não apenas trabalha com biologia, ele simplesmente vive biologia. Ninguém estuda biologia atrás de dinheiro ou status social (felizmente ou infelizmente, não tem nem como), à semelhança do que ocorre com outras áreas. Quem resolve estudar seriamente biologia tem que, antes de tudo, gostar de biologia. E tem que ter uma coragem que só mesmo o gosto e a afinidade com a coisa são capazes de produzir. Quem não tem afinidade com a área acaba desistindo logo no início. Como me disse um colega certa vez: “Sem desmerecer os outros profissionais, mas certos cursos qualquer mané é capaz de fazer. Agora, para fazer ciência, para fazer biologia, o cara tem que ter culhão.”
Eu, por exemplo, fui um caso raro entre os adolescentes da minha época. Sempre soube a área que queria seguir, o que eu gostaria de estudar. Nunca tive nenhuma dúvida vocacional, ao contrário da imensa maioria dos meus amigos e colegas. Desde criança procurando bichinhos nos matagais e tentando descobrir como eles eram e viviam – sem contar as incontáveis picadas. E sem nenhum medo de brincar com um escorpião ou aranha, coisa que deixava a minha mãe apavorada. Pedindo livros e revistas sobre animais de presente e comprando-as nas livrarias e bancas de jornal sempre que surgia a oportunidade. Vendo beleza em cada detalhe da anatomia e do comportamento de cada espécie, muitas das quais rejeitadas pela maioria das pessoas. Depois vieram as criações de minhoca, os tenébrios, os aquários, terrários mais elaborados, a taxidermia e coisas do gênero. Tudo bem que houve um momento em que minha paixão pelos animais me fez pensar em seguir medicina veterinária. Mas depois que eu descobri que nesta área não estudaria vida pré-histórica e que as espécies silvestres ficariam em segundo plano, tive a certeza definitiva que meu o caminho estava diretamente ligado à biologia.
Li certa vez que o dia do biólogo (3 de setembro) pode ser considerado o dia de todas as espécies. Concordo plenamente. Temos o dia da árvore, da água, da Terra. Faltava um dia dedicado aos seres vivos e não apenas a um único tipo. Além de ser extremamente justo com o profissional que estuda os seres vivos.
De fato, estudar a vida é descobrir algo novo a cada trabalho, a cada dia. E o biólogo que realmente ama o seu trabalho sente nele o mesmo arrebatamento da descoberta que sentíamos quando criança ao observar insetos num jardim. Como escreveu o brilhante Richard Durrell no seu apaixonante livro “O Naturalista Amador”, os apaixonados pela natureza jamais padecerão de um mal que acomete a maior parte da humanidade moderna: o tédio.

Como Compreender um Biólogo
Tenha paciência ao caminhar com ele na rua. É provável que ele faça paradas freqüentes... Sempre há uma formiga carregando uma folha gigantesca nas costas ou uma samambaia disposta de uma forma estranha num buraco do muro.
Ele acha isso incrível!!!
Toda vez que vocês entrarem em qualquer assunto que envolva a área dele, ele se empolgará. Finja que presta atenção no que ele diz. Finja que está entendendo também. Entenda que o conceito de beleza de seu amigo biólogo é um tantinho diferente do seu. Sapos verdes, gosmentos e verruguentos são lindos. Escorpiões, aranhas, opiliões (hein?), aye-ayes (heeeiiinnn???!!!)... são todos lindos.Tente não vomitar quando ele te mostrar as fotos da última necropsia feita num golfinho.
Simplesmente ignore quando o encontrar agachado sobre o musgo... e faça o possível para que ele não te veja, pois uma vez que isso acontecer ele começará o discurso em biologuês: “são briófitas! São as plantas mais simples! Você acredita que elas não têm nem vasos condutores? E elas ainda dependem da água para a fecundação e...”
É provável que ele prefira ir para o congresso de Mastozoologia ao invés daquela viagem romântica. Você quer ajudá-lo? Mostre que há outras coisas no mundo, por exemplo... convide-o para ir a um museu de arte. Ou a um grupo de discussão sobre literatura.
Ele terá tendência a chamar pinheiros de gimnospermas. E a pinha (de onde
vem o pinhão) de estróbilo.
Não, ele não é um maníaco suicida se decidir entrar numa jaula para mergulhar com tubarões-brancos. Mas também não deve estar em seu juízo perfeito.
Ah, e é melhor você assistir filmes como Dinossauros, A Era do Gelo e Procurando Nemo com amigos que não sejam biólogos. Caso contrário você ouvirá, durante o filme: “ah, mas baleias não têm essa conexão entre a boca e o nariz, o Marlin e a Dori nunca poderiam ter saído pelas narinas dela!” E quem se importa? Bem, ELE se importa, e muito.


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