sábado, dezembro 15, 2012

MAIS SOBRE VIDA EXTRATERRESTRE

Como complemento aos meus posts anteriores referentes à possibilidade de vida extraterrestre, segue um excelente texto do engenheiro químico e consultor empresarial Francisco Quiumento, onde o mesmo inclui como fatores a serem considerados o nível civilizatório e a escala econômica de uma cultura:

http://francisco-scientiaestpotentia.blogspot.com.br/2012/12/aliens-ou-vida-extraterrestre-iii.html

Boa leitura.


terça-feira, dezembro 04, 2012

AS MUDANÇAS NA EQUAÇÃO DE DRAKE

Frank Drake e sua equação (foto: divulgação).


Na minha palestra “Vida na Terra e Vida Extraterrestre”, cujo resumo pode ser conferido neste blog (e lembrando que todos os leitores são livres para divulgá-lo e mesmo imprimi-lo, desde que mantidos os devidos créditos), mencionei a famosa equação do Professor Emérito de Astronomia e Astrofísica pela Universidade da Califórnia e grande amigo de Carl Sagan (1935-1996), Dr. Frank Donald Drake. Essa equação visa estimar a quantidade de civilizações extraterrestres cujo nível tecnológico permitiria a emissão de sinais de rádio a nível galáctico e, consequentemente, um possível contato com o planeta Terra. Como complemento ao material supracitado e principalmente para maiores esclarecimentos, tomei a decisão de apresentá-la, incluindo as mudanças que ocorreram na mesma desde quando foi elaborada, em 1961.
A Equação de Drake, como ficou conhecida, se popularizou por meio da série de TV e do livro “Cosmos” (1980) de Sagan, além de ter sido divulgada em numerosos outros livros sobre Astronomia, bem como de pseudociência, como Eram os Deuses Astronautas?” (1968) de Erich Von Däniken, em revistas de ufologia etc. Apesar de figurar em algumas publicações de credibilidade duvidosa (que via de regra, distorcem tendenciosamente os seus resultados, como veremos a seguir), a equação é séria, bem fundamentada e, diga-se de passagem, extremamente simples:




Onde as estimativas originais de Drake foram as seguintes:

R* = número de estrelas da Via Láctea. Estimativa: 200 bilhões.
fp = fração estimada de estrelas com planetas orbitando ao redor (0,5).
ne = fração estimada de planetas em um dado sistema, ecologicamente adequados para o desenvolvimento de vida (entre 0,1 e 1,0).
fl = fração estimada de planetas onde a vida se desenvolveu (entre 0,1 e 1,0).
fi = fração estimada de planetas onde se desenvolveu vida inteligente – consciência, raciocínio e cultura. (1,0).
fc = fração estimada de planetas habitados por vida inteligente onde se desenvolveu uma civilização capaz de se comunicar (0,1 a 0,9).
L= fração estimada de tempo em que essa civilização enviou sinais (0,000001).
N= número estimado de civilizações tecnicamente avançadas na Via Láctea (100 mil).


Pseudocientistas e charlatões dos mais diversos tipos adoram distorcer esse valor final, indo de resultados que vão de 200 mil até a casa dos milhões. Justamente pela sua simplicidade, a Equação de Drake possui variáveis que permitem uma gama considerável de resultados. Isso porque Drake estava preparado para possíveis descobertas científicas que pudessem alterar o resultado inicialmente obtido. De fato, ele nunca afirmou que esse número era definitivo. Na verdade, nenhum cientista realmente ético faria algo semelhante numa situação dessas. E é de conhecimento geral como pessoas de má fé utilizam brechas em coisas que vão de legislações a teorias científicas para criar seus embustes. Entretanto, muitos pesquisadores, especialmente da área das ciências biológicas, observam que ele foi por demais otimista nas suas conclusões. Na verdade, ele realmente cometeu um equívoco muito comum por parte daqueles que não estão familiarizados com a evolução biológica.
Antes, porém, comentarei outras alterações feitas na equação ao longo dessas cinco décadas. Duas delas são particularmente interessantes, apesar de interferirem pouco no resultado estipulado por Drake. O astrofísico norte-americano Michael Seeds no seu livro “Horizons: Exploring the Universe” (1993) relaciona o número de estrelas atualmente existente na galáxia, N*, com a taxa de formação de estrelas. Em 2005 Alexander Zaitsev, engenheiro e astrônomo da Academia Russa de Ciências incluiu as variáveis nr (“Número de Reaparição”, o número médio de vezes que uma civilização nova reaparece no mesmo planeta após a extinção de uma civilização anterior, que teria surgido uma única vez) e fm (“Fator de Comunicação”, a fração de civilizações comunicativas que realmente se interessariam por transmissão interestelar), logo após a variável fc. Esses fatores provocam uma alteração mínima no resultado final (no máximo um aumento de 1%), mas especialmente as duas novas variáveis merecem atenção, uma vez que o ser humano não se comunica ativamente por sinais de rádio interestelar (com única exceção do episódio do radiotelescópio de Arecibo, o projeto SETI apenas recebe sinais, não os envia) e a possível extinção de uma civilização seguida pela ascensão de outra é um fator a ser considerado.
A coisa realmente começou a mudar quando vários astrônomos e astrofísicos perceberam o risco de colisão ou severa mudança climática causada por perturbação gravitacional decorrente da aproximação a algum objeto massivo. Óbvio que a gravidade exercida pela estrela não permite que um planeta escape da sua órbita e saia vagando por aí. Ocorre que as estrelas também se movem. As galáxias estão sempre em movimento. E existe o risco real de uma colisão ou desestabilizadora aproximação com outra(s) estrela(s), inclusive de que os planetas que orbitam a estrela em questão colidam com outras estrelas ou com planetas de outras estrelas, ou sejam bombardeados por objetos semelhantes à nossa nuvem de Öort ou nosso cinturão de Kuiper, entre outros fatores que poderiam extinguir a vida num planeta qualquer. Além disso, não se pode esperar que a órbita do Sol ou outra estrela localizada nas regiões periféricas da galáxia sejam estáveis a longo prazo. Esse fator torna o resultado final no mínimo 100 vezes menor daquele que Drake presumiu.
Mas o fator que altera definitivamente o resultado da Equação de Drake diz respeito à evolução da vida na Terra. Drake estipulou que o surgimento de vida considerada inteligente seria inevitável num planeta onde simplesmente a vida já existisse (fi = 1,0, ou seja, 100% de chance). Contudo, o atual conhecimento sobre os processos evolutivos mostra que acreditar nisso seria no mínimo ingênuo. No último capítulo do seu livro “Vida Maravilhosa” (1989), o paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002) aponta que a história da vida na Terra apresentou muitas possibilidades, das quais poucas sobrevivem nos dias atuais. Ele propõe imaginarmos essa história como um filme, onde podemos retornar e pausar certas cenas, observando que pequenas mudanças nelas poderiam fazer toda a diferença. A hipótese da Terra Rara, que surgiu com o livro de mesmo nome (Ward & Brownlee, 2000) expõe de maneira bastante didática porque a vida multicelular seria um fenômeno raro, ainda que a vida formada por seres unicelulares possa ser relativamente comum no universo. Conforme explico no material supracitado, a evolução biológica não possui qualquer direção ou propósito, e uma pequena mudança durante o processo (extinções em massa, troca de material genético etc) pode alterar todo o seu curso. Ela é marcada pelo acaso. Como dito anteriormente, trata-se um equívoco relativamente comum por parte dos não biólogos. Os críticos podem argumentar que conhecemos apenas um tipo de vida e que o universo pode conter vida totalmente diferente daquilo que conhecemos como vida, inclusive com uma evolução totalmente diferente. Todavia, isso não muda os fatos. Primeiro porque não temos qualquer evidência de tais formas de vida. Segundo porque as hipóteses nesse sentido, como as que lidam com elementos químicos que possam substituir aqueles que conhecemos como constituintes básicos do seres vivos (silício no lugar do carbono, arsênio no lugar do fósforo etc.), mostram que essa suposta vida exótica seria ainda mais rara. E terceiro que uma provável biosfera diferente de tudo aquilo que conhecemos como vida será tratada como algo diferente, talvez até mesmo dando origem a toda uma nova área da ciência para estudá-la.
O fator do acaso relacionado à evolução biológica faz com que o resultado final da Equação de Drake seja um modesto número entre 0 e 10. Alguns pesquisadores arriscam um valor de apenas duas civilizações avançadas na nossa galáxia capazes de se comunicar conosco (resultado = 2,31). Há aqueles que afirmam que sejamos únicos na Via Láctea. E há ainda os mais otimistas, defendendo a existência de um número maior de civilizações menos avançadas, com as quais não poderíamos nos comunicar – um número que poderia chegar a 200. De qualquer maneira, se não estamos sozinhos, nossos vizinhos mais próximos devem estar a muitos anos-luz de distância.


Bibliografia recomendada:
DAWKINS, Richard, A Grande História da Evolução, Companhia das Letras, 2009.
GOULD, Stephen Jay, Vida Maravilhosa, Companhia das Letras, 1990.
SAGAN, Carl, Cosmos, Villa Rica,1983.
SEEDS, Michael A. e BACKMAN, Dana, Horizons: Exploring the Universe, Brooks Cole, 12º ed., 2012.
WARD, Peter D. e BROWNLEE, Don, Terra Rara, Campus, 2000



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