Desde 1910 é celebrado em 08 de março o Dia Internacional da Mulher. Já adianto que não concordo com tal denominação, uma vez que pra mim todos os dias são das mulheres assim como os são de todos os outros seres humanos. Por isso não tecerei aqui argumentos sobre a importância dessa data, nem me deixarei seduzir pelo clichê que deve estar vigorando em muitos outros sites e blogs sobre as qualidades que tornam as mulheres essenciais nas nossas vidas e no mundo. Muito menos venho mostrar o machismo ainda dominante na maior parte das culturas da atualidade e as dificuldades pelas quais as mulheres ainda passam em todo o planeta. Nesse último caso, especificamente, recomendo a leitura
desse excelente texto da biomédica e escritora Cristina Lasaitis, publicado há um ano. Eu jamais poderia ter feito melhor: direto, sucinto e verdadeiro; um autêntico soco no estômago do politicamente correto.
Não é preciso ter doutorado na área de psicologia para notar que, assim como muito do racismo parte das chamadas “minorias raciais” (ver meu texto
100% MESTIÇOS, propositalmente postado no Dia da Consciência Negra), boa parte do machismo se manifesta por meio de um contingente considerável do próprio sexo feminino. Tal fato é facilmente constatável em atitudes como nunca tomar a iniciativa num flerte (pois “não fica bem para uma mulher”), ter como principal objetivo de vida ser sustentada por um companheiro abonado ou não fazer nada sem a “permissão” do marido/namorado/noivo. As mulheres que se sujeitam a isso, antes de qualquer coisa, não se gostam, uma vez que se deixar subjugar pelos caprichos daqueles que não gostam de mulher. É exatamente isso, prezado leitor. A grande verdade é que homem machista não gosta de mulher, gosta apenas de sexo com mulher. Gostar de mulher vai muito além do prazer sexual. Pra gostar de mulher é preciso ser muito, muito macho. Algo que o machista não é, pois não passa de um covarde inseguro que, pra começar, não valoriza nem a si próprio. Por sua vez, as mulheres machistas não gostam de si mesmas, pois não tem coragem de serem elas mesmas. E hoje faço um intervalo no tema principal deste blog (se é que isso seria possível, tendo em vista que considero muito difícil falar de seres humanos e suas relações ignorando completamente os seus componentes biológicos) para discorrer justamente sobre gostar de mulher.
Primeiramente, quem gosta de mulher não tem data específica para apreciá-las ou celebrar sua existência. Anos atrás descobri um texto interessante aonde o autor (a versão que chegara até mim era atribuída a Arnaldo Jabor, mas sabemos o quanto isso é questionável tendo em vista o que geralmente ocorre com material tão rodado na internet) descrevia o que, na sua visão, seria realmente gostar de mulher. Algo que ele deixa bem claro desde o início é que isso seria muito mais que apreciar as formas de um belo corpo feminino, pois isso qualquer indivíduo macho heterossexual da espécie já possui na sua bagagem genética antes mesmo de vir ao mundo. Gostar realmente de mulher, ele afirma, requer sensibilidade e tato, enxergar além do físico e admirar alguém na sua totalidade. Concordo em gênero, número e grau.
De fato, babar por um belo corpo é automático, não requer nenhum aprendizado. No que diz respeito exclusivamente ao aspecto físico (ou seja, não incluindo possíveis afinidades e sentimentos), a mulher que geralmente nos atrai é essencialmente a boa reprodutora: jovem (para gerar muitos filhos), cintura fina, quadris largos, coxas grossas e seios firmes. Contudo, embora Freud e outros nos tenham mostrado que somos em grande parte guiados por nossos instintos, mais tarde descobrimos que estamos longe de ser escravos passivos dos mesmos. Talvez essa seja a única real diferença da nossa espécie em relação aos outros animais. O homem (ou ao menos aquele que mereça realmente essa denominação) não pensa por meio da testosterona. Pelo menos não o tempo todo.
Ao mesmo tempo, gostar de mulher é bem diferente de endeusá-las, colocando-as num altar, como se fossem superiores aos homens. Elas são seres humanos como nós, igualmente imperfeitas – ainda que fascinantes. E talvez justamente aí resida todo o seu encanto, pelo menos pra quem é adulto o suficiente pra não desejar algo que nunca irá encontrar, já que pessoas perfeitas não existem. Muitos indivíduos do sexo masculino ainda se confundem quanto a isso. Para amar as mulheres, comecemos por fazer uso daquela palavrinha mágica: respeito. E isso inclui respeito por si mesmo e ter amor próprio. Quem não se valoriza, jamais será valorizado por outrem. Homem tem que ser homem. As mulheres que valem a pena gostam de homens, não de capachos.
Volta e meia me pego comentando com amigos (e amigas) como, por vezes, me sinto um estranho no ninho por não sentir nenhuma admiração por mulheres que estão em evidência exclusivamente por, e sem nada a oferecer, além da sua beleza física - muitas vezes de apenas uma determinada parte da sua anatomia. Claro, o que é bonito muito agrada aos meus olhos. Sem hipocrisia. Mas beleza vazia é frustrante, pra não dizer broxante. Sem falar na noção profundamente enraizada no senso comum de que beleza e inteligência não poderiam coexistir numa mesma mulher. Às vezes tenho a impressão de que nasci no planeta errado. Uma mulher bela não é necessariamente interessante. De fato, acho mesmo algumas repugnantes, devido ao seu comportamento vulgar e ausência de talentos e motivações. Para muitos, isso soaria absurdo. Azar deles. Costumo dizer que uma mulher realmente interessante, pra mim, é aquela que antes de qualquer reação hormonal óbvia, me encanta com os seus talentos. Nada se compara a uma mulher encantadora, ainda mais se novos encantos nos são apresentados à medida que vamos conhecendo-a melhor. Desvendar a personalidade de uma mulher interessante é uma experiência incomparável, porque ela possui de fato uma personalidade e, portanto, muito a oferecer. Tenho sérias dificuldades em separar uma mulher em partes, como se fosse um brinquedo de montar, para apreciá-las separadamente. Prefiro, como se diz popularmente, “o conjunto da obra”. Uma amiga extremamente encantadora, recentemente escreveu:
“Qualquer um que tenha olhos para ver baba num corpão bonito. Mas burrice enfeia qualquer beldade - e qualquer galã. Já a inteligência embeleza.”
Para completar tal raciocínio, cito uma frase do fotógrafo alemão Helmut Newton (1920-2004), conhecido principalmente pelos seus ensaios com mulheres que esbanjam força e personalidade, entre elas a atriz Catherine Deneuve:
“Uma mulher tipo florzinha recatada, que não é inteligente nem se impõe, não é interessante”.
Um dos grandes males do mundo moderno certamente é a atitude predatória de certos setores da mídia para impor um padrão de beleza, especialmente para as mulheres. Triste de quem embarca nessa piroga furada. Primeiro porque beleza é algo muito subjetivo, o que torna bem estranho afirmar que aqueles que discordem do padrão imposto estejam “errados”. Segundo porque quase sempre tal padrão é anatômica e fisiologicamente inalcançável para 99% das mulheres, o que termina por gerar um efeito cascata de problemas emocionais, psicológicos e por vezes até físicos – configurando crueldade pura e simples. Confesso que o terceiro motivo é pessoal. Acredito sinceramente que o maior trunfo da beleza feminina reside justamente na sua diversidade. Estabelecer um padrão é perder toda a maravilha que consiste em apreciar essa diversidade. E lembrando que aquilo que é considerado belo pode mudar de acordo com a época e a cultura. Criar regras sobre o que seria bonito além de tirânico e insensível é idiota. Claro que existem mulheres feias. Afinal, o próprio conceito de beleza não existiria sem a presença da feiúra. Considero o cúmulo da hipocrisia dizer que ninguém é feio. E sendo sincero, acho bem feios esses cabides ambulantes com cara de cadáver do “mundo fashion”. Ossos da bacia pélvica visíveis não é beleza. É doença. E 75 não é medida de quadril de uma mulher adulta saudável. Mulher realmente bonita tem curvas. E sabe valorizar aquilo que a natureza lhe deu.
Esta é apenas a opinião de um homem que gosta de mulher. Não posso falar, por exemplo, em nome das minhas amigas gays, muito embora compartilhemos do mesmo bom gosto. Para finalizar, seguem doze damas pelas quais nutro uma admiração especial. Na verdade o número de mulheres cuja atuação eu aprecio, felizmente, não caberia num post. Nesse caso decidi evitar ao máximo o lugar comum das celebridades e citar aquelas que se destacam nas suas respectivas áreas sem que, no entanto, sejam íntimas dos flashes e holofotes. Também decidi abranger a maior variedade possível de profissões, evitando um número muito grande de atrizes ou cantoras, por exemplo. Sim, elas são lindas. Mas o que realmente as diferencia é uma série de outros predicativos: todas muito inteligentes, nada óbvias, autênticas, donas de uma sensualidade natural e (talvez justamente por isso) nada apelativa, além de incrivelmente talentosas e competentes nos caminhos que decidiram seguir – com as próprias pernas. Como se isso tudo já não bastasse, tive o prazer de conhecer algumas delas pessoalmente e descobrir que são de uma doçura ímpar, cada qual a sua maneira. São pessoas com quem você começa a conversar e não quer mais parar. Impossível não se encantar. Sem dúvida, cada uma delas conquistou o meu coração de maneira individual e única.
Camila Fernandes – Ilustradora e escritora brasileira
Cléo de Páris – Atriz brasileira
Cristina Lasaitis – Biomédica e escritora brasileira
Elinor Carucci – Fotógrafa americano-israelense
Felisa Wolfe-Simon – Biogeoquímica da NASA
Márcia Tiburi – Filósofa, artista plástica e escritora brasileira
Maret Grothues – Jogadora holandesa de voleibol
Mariana Aydar – Cantora, compositora e multinstrumentista brasileira
Marianne Steinbrecher, a Mari - Jogadora brasileira de voleibol
Paula Amidani – Atleta brasileira de Wu Shu
Soledad Villamil – Atriz e cantora argentina
Suzana Herculano-Houzel – Neurocientista brasileira
A todas aquelas que exercem suas profissões com semelhante dedicação, paixão e brilho, sintam-se representadas por elas. Parabéns por serem mulheres de verdade, todos os dias.