ou...
por que refutações verdadeiras requerem verdadeiro conhecimento
sobre o assunto e não apenas orelhadas e trechos de Wikipedia?
Depois de um bom tempo
sem atualizar o blog, retorno com um post que talvez interesse
àqueles que curtem ciência e, em especial, os debates envolvendo
cientistas e não cientistas. Em 2010 postei o texto Sobre Falácias,
de Guilherme Magalhães Gall; onde o autor discorre em detalhes sobre
os vários recursos de desonestidade intelectual utilizado por
fanáticos religiosos, pseudocientistas e toda a classe daqueles que
se incomodam e/ou por algum motivo não aceitam determinadas teorias
científicas, em debates com cientistas. Para aqueles que conheceram
o blog há pouco tempo e ainda não leram tal artigo, considero de
suma importância fazê-lo antes de seguir por aqui, tendo em vista que alguns dos termos utilizados no post de hoje dizem respeito
diretamente ao mesmo. Àqueles que quiserem saber mais sobre o
fanatismo religioso como inimigo da ciência sugiro a leitura dos
meus textos Sobre o Criacionismo e O Pilar Fundamental do Criacionismo, ambos também deste blog..
Hoje lhes apresento a
“Pirâmide da Argumentação” – que felizmente tem se espalhado
por toda internet, incluindo o facebook. Trata-se de uma espécie de
classificação dos diversos “estágios” de argumentação que
podem surgir num debate envolvendo opiniões antagônicas; indo desde
a atitude mais grosseira (ofensa pessoal pura e simples, a ponto de
se deixar de lado o assunto discutido) até a mais refinada e
objetiva (refutação verdadeira ao ponto central do que é
apresentado, sem o uso de falácias, por parte de quem conhece o
assunto).
O formato de pirâmide
é ideal para ilustrar tal situação, uma vez que a argumentação
mais pobre costuma ser aquela utilizada pela maioria daqueles que se
dispõe a discutir tais assuntos representando a sua base, enquanto o
seu ápice representa a refutação verdadeira. Tal conclusão parece
óbvia, mas há mais variáveis envolvidas. Antes de mencioná-las,
contudo, nos atentemos para duas outras conclusões as quais o leitor
certamente também deve ter chegado:
- Os indivíduos que fazem uso de falácias não costumam ir além do quinto andar da pirâmide (ela sempre deve ser lida de baixo para cima). A falta de conhecimento, a paixão irracional (no caso dos fanáticos religiosos) e a própria metodologia científica impedem que eles consigam mais do que contra-argumentações baseadas em contradições que muitas vezes sequer existem (“Mas perder estruturas e se tornar mais simples não seria o oposto de evolução?”), o que para os mais desatentos podem dar a ilusão de abalar uma teoria ou afirmação. Aos já familiarizados, contudo, de nada funcionam.
- Da mesma maneira, o verdadeiro debate parece confinado aos dois últimos andares da pirâmide (o sexto e o sétimo). De fato, refutar o ponto central ou mesmo trechos de uma teoria científica ou afirmação baseada nelas requer conhecimento e objetividade. Mesmo porque, quem faz ciência sabe: nem sempre isso é possível. E aí chegamos às tais variáveis mencionadas anteriormente.
Apesar de essencial,
não é apenas o conhecimento sobre determinado assunto que determina
se uma refutação será possível ou não. Dentre outros fatores
importantes encontra-se a contingência histórica (vide meu texto Os Moluscos de Leonardo da Vinci). Mas talvez o mais
importante seja perguntar-se se aquilo que está em debate (como por
exemplo uma teoria científica) PODE ser refutado. Teorias
científicas não teem a obrigação de serem a palavra final sobre
um assunto e é muito bem vindo que todas elas sejam discutidas (vide
meu texto Ciência e Trabalho Cientifico). Mas a verdade é que
muitas delas seguem inabaláveis, como a Teoria Geral da Relatividade
e a Teoria da Evolução. No caso especial dessa última, tivemos
apenas refutações de pontos específicos (“trechos”), mas nunca
da sua idéia central (os seres vivos evoluem). E cada nova
descoberta da biologia apenas confirma as conclusões de Darwin e
Wallace. Ocorre que algumas teorias encontram-se tão bem embasadas
que refutar o seu ponto central torna-se praticamente impossível. E
então a única saída é tentar elaborar uma teoria nova, capaz de
desbancar a que está em voga – e como ocorre em todas as
profissões, há cientistas de egos mais inflados disposto a isso.
Obviamente, para os
pseudocientistas e fanáticos religiosos é muito mais fácil tentar
desacreditar uma teoria científica que criar uma teoria nova que
possa substituí-la. Para o azar deles, contudo, a ciência não é
mantida pela fé, mas por fatos e evidencias. E fatos só podem ser
refutados por meio de outros fatos. E estudar dá trabalho.
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