Há alguns anos conclui, por experiência própria, que muitas das pessoas que dizem não acreditar na Teoria da Evolução, na verdade possuem uma idéia completamente equivocada a seu respeito. De fato, não se pode acreditar ou não numa teoria científica, pois a mesma não constitui algo no qual se deva ter fé, mas sim a descrição de um fenômeno da natureza (ver meu texto Ciência e Trabalho Científico). Uma teoria é a representação científica de um fato. Não gostar ou “não acreditar” nela não faz com que tal fato deixe de existir. No caso específico da evolução biológica, por mais ofensiva que ela possa parecer para alguns, mais que uma simples idéia, trata-se de uma realidade. Ao contrário do que pensam os mais egocêntricos, os princípios que fazem o universo ser como é não estão nem aí para aquilo que gostamos ou achamos. A natureza não foi feita para atender aos nossos anseios humanos, nós é que somos criações dela. Outros profissionais da área com os quais tenho contato chegaram à mesma conclusão por experiências parecidas. E ambos chegamos à outra conclusão igualmente interessante: a maioria destas mesmas pessoas, quando passa a compreender o que realmente significa a Teoria da Evolução dos seres vivos, muda de idéia. O que nos leva a uma terceira conclusão, que pode parecer um tanto óbvia para quem lida com ciência, mas que ainda não atingiu o grande público de maneira satisfatória: informação transmitida de maneira adequada evita uma série de problemas, nas mais diversas esferas das relações humanas.
A dificuldade em aceitar a teoria proposta por Charles Robert Darwin e Alfred Russell Wallace foi a semente (trocadilho proposital) que originou o chamado movimento criacionista. O criacionismo sequer merece a qualificação de pseudociência, pois nem ao menos se dá ao trabalho de parecer científico – mesmo a sua versão mais moderna, intitulada design inteligente (ID, em inglês), carece do mínimo de metodologia científica. Baseados geralmente (mas nem sempre) em interpretações da bíblia cristã, os criacionistas afirmam que a evolução biológica não existe e que toda a vida na Terra surgiu de uma só vez, por um ato divino. Espécies extintas como dinossauros e mamutes teriam sucumbido devido a fenômenos como o dilúvio bíblico. Como é costumeiro em tais situações, os criacionistas não possuem qualquer evidência das suas argumentações, resumindo-se ao uso recorrente de falácias e procura (em vão) de falhas na teoria evolutiva. O uso da desonestidade intelectual pelos criacionistas (indo de argumentos de autoridade a distorção de fatos) é notória. Abordarei mais profundamente o criacionismo num momento oportuno. O que posso adiantar agora é o fato de que a existência de tais idéias apenas contribui para interpretações equivocadas sobre a evolução biológica junto ao público não especializado.
Um fator determinante nestas noções populares incorretas é a idéia equivocada de que a ciência, em especial teorias como a da evolução, estariam diretamente ligadas ao ateísmo. Partindo deste princípio, tais teorias negariam a existência de um Criador; atribuindo a origem e evolução de toda a vida na Terra ao acaso. Este é o argumento mais utilizado, muitas vezes de forma velada ou inconsciente, por indivíduos religiosos com pouco ou nenhum conhecimento sobre ciência, para justificar seu repúdio à mesma. Muitos desses, conforme citei anteriormente, mudam de idéia quando conhecem o verdadeiro conceito de evolução biológica. De fato, a teoria evolutiva, ou qualquer outra teoria científica não procura provar a existência ou inexistência de um Criador, pois a ciência não abrange conhecimentos que não dizem respeito ao mundo natural da matéria e energia. Lembremos que, no meu texto supracitado, afirmo que uma das características fundamentais da ciência é lidar apenas com o que for mensurável. Ocorre que o conceito de divindade não tem como ser algo mensurável. Portanto, a ciência não pode ser contrária a Deus (ou deuses), pois a noção de uma divindade sequer faz parte do seu objeto de estudo. Prova disso é que a maior parte da comunidade científica é composta por indivíduos que apresentam algum tipo de fé. E esse contingente inclui grandes nomes da história da ciência. Isso de forma alguma significa que esses cientistas sejam melhores que seus colegas ateus. Significa apenas que fé e ciência são coisas totalmente distintas e justamente por isso, jamais antagônicas ou excludentes. Em geral os cientistas que possuem alguma fé (denominados teístas ou deístas), vêem os fenômenos que estudam como aspectos de uma força superior. Tal postura é impossível de ser questionada sob a lente da metodologia científica.
A dificuldade em aceitar a teoria proposta por Charles Robert Darwin e Alfred Russell Wallace foi a semente (trocadilho proposital) que originou o chamado movimento criacionista. O criacionismo sequer merece a qualificação de pseudociência, pois nem ao menos se dá ao trabalho de parecer científico – mesmo a sua versão mais moderna, intitulada design inteligente (ID, em inglês), carece do mínimo de metodologia científica. Baseados geralmente (mas nem sempre) em interpretações da bíblia cristã, os criacionistas afirmam que a evolução biológica não existe e que toda a vida na Terra surgiu de uma só vez, por um ato divino. Espécies extintas como dinossauros e mamutes teriam sucumbido devido a fenômenos como o dilúvio bíblico. Como é costumeiro em tais situações, os criacionistas não possuem qualquer evidência das suas argumentações, resumindo-se ao uso recorrente de falácias e procura (em vão) de falhas na teoria evolutiva. O uso da desonestidade intelectual pelos criacionistas (indo de argumentos de autoridade a distorção de fatos) é notória. Abordarei mais profundamente o criacionismo num momento oportuno. O que posso adiantar agora é o fato de que a existência de tais idéias apenas contribui para interpretações equivocadas sobre a evolução biológica junto ao público não especializado.
Um fator determinante nestas noções populares incorretas é a idéia equivocada de que a ciência, em especial teorias como a da evolução, estariam diretamente ligadas ao ateísmo. Partindo deste princípio, tais teorias negariam a existência de um Criador; atribuindo a origem e evolução de toda a vida na Terra ao acaso. Este é o argumento mais utilizado, muitas vezes de forma velada ou inconsciente, por indivíduos religiosos com pouco ou nenhum conhecimento sobre ciência, para justificar seu repúdio à mesma. Muitos desses, conforme citei anteriormente, mudam de idéia quando conhecem o verdadeiro conceito de evolução biológica. De fato, a teoria evolutiva, ou qualquer outra teoria científica não procura provar a existência ou inexistência de um Criador, pois a ciência não abrange conhecimentos que não dizem respeito ao mundo natural da matéria e energia. Lembremos que, no meu texto supracitado, afirmo que uma das características fundamentais da ciência é lidar apenas com o que for mensurável. Ocorre que o conceito de divindade não tem como ser algo mensurável. Portanto, a ciência não pode ser contrária a Deus (ou deuses), pois a noção de uma divindade sequer faz parte do seu objeto de estudo. Prova disso é que a maior parte da comunidade científica é composta por indivíduos que apresentam algum tipo de fé. E esse contingente inclui grandes nomes da história da ciência. Isso de forma alguma significa que esses cientistas sejam melhores que seus colegas ateus. Significa apenas que fé e ciência são coisas totalmente distintas e justamente por isso, jamais antagônicas ou excludentes. Em geral os cientistas que possuem alguma fé (denominados teístas ou deístas), vêem os fenômenos que estudam como aspectos de uma força superior. Tal postura é impossível de ser questionada sob a lente da metodologia científica.
Mas há quem discorde, embora de maneira pouco convincente. Em resposta ao crescimento do criacionismo e outras formas de fanatismo religioso em países como os EUA, estabeleceu-se nesta década e pela primeira vez na história, uma espécie de militância atéia organizada. Eles são uma minoria, é verdade, mas fazem certo barulho. Tendo como um dos seus líderes mais famosos o biólogo britânico especialista em evolução Richard Dawkins, e afirmando que as religiões são o grande mal do mundo, esses indivíduos defendem que ciência e fé seriam incompatíveis. Na verdade, muitos deles declaram que, para um mundo melhor, todo e qualquer tipo de crença deveria ser varrido do planeta. Contudo, a estratégia adotada por eles é praticamente idêntica a dos fanáticos religiosos, baseando-se em ataques, retórica, generalizações e depreciações, carecendo de argumentação respeitável. O livro que Dawkins escreveu para defender tais idéias, “Deus, Um Delírio”, fica anos luz atrás em termos de qualidade da sua extensa e excelente obra de divulgação científica. Como se vê, o extremismo é o mesmo, só mudando o objeto de culto. Infelizmente, o que os fanáticos ateus não percebem é que essa postura só serve para aumentar o preconceito do público leigo para com a ciência (“a ciência é contra Deus”) e, consequentemente, o seu afastamento.
Também chama especial atenção o crescente número de pseudocientistas que tentam unir ciência e fé, como se fossem caminhos perfeitamente intercambiáveis. Vendendo aos milhares nas prateleiras de auto-ajuda das livrarias, os títulos que tratam deste assunto apresentam pelo menos duas característica comuns a todas as pseudociências: a distorção de conceitos científicos e (muitas vezes em conseqüência disso) a capacidade de se “modelar” ao gosto do freguês, cuidando para que os “fatos” mencionados nunca o desagrade ou ofenda a sua fé pessoal. O mais preocupante é que há alguns cientistas de formação nesse seguimento altamente lucrativo, fazendo uso da desonestidade intelectual para defender conceitos absurdos. Talvez o maior exemplo desta postura totalmente antiética seja o físico indiano Amit Goswami, com suas “provas científicas” da existência de Deus, além da "medicina quântica". Esses indivíduos nada têm de ingênuos ou simplórios: pseudociência defendida por alguém com título acadêmico traz uma imagem de maior credibilidade junto aos leigos. Pobre de quem rala fazendo ciência de verdade, inclusive tendo que mostrar que nada disso é real.
Ao contrário do que bradam os fanáticos (religiosos e ateus), fé e ciência não precisam ser inimigas. Contudo, a fé jamais deveria ser usada no lugar da ciência para explicar o mundo natural, da mesma forma que não seria adequado fazer uso da ciência para adentrar nos princípios exclusivos da fé. Particularmente, costumo ver a relação entre ciência e fé num indivíduo como a de água e óleo num recipiente: nunca se misturando, mas podendo perfeitamente permanecer juntos. Tal analogia pode ser muito pobre do ponto de vista daqueles dotados do talento poético que eu, infelizmente, não possuo. Mas é das mais didáticas. E como cientista e educador, isso pra mim é o que realmente importa.
Um comentário:
Para mim ciência e fé deveriam andar juntas e não em vias contrárias pois uma depende da outra p/ a vida fluir bem. Não adianta vc rezar pedindo uma cura se não procura um médico e confia nele para realizar a cura usando os seus conhecimentos científicos. Parabéns pelo texto brilhante. Bjs
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