quinta-feira, junho 20, 2013

SOBRE JACARÉS, CROCODILOS E GAVIAIS

A taxonomia (área da biologia que trata da classificação dos seres vivos) divide as espécies atuais da classe répteis (Reptilia) em quatro grupos principais ou ordens: quelônios (tartarugas, jabutis e cágados), esquamatos (lagartos e serpentes), crocodilianos (crocodilos, jacarés e gaviais) e rincocéfalos (hoje representados apenas pelo tuatara da Nova Zelândia). Ao incluirmos as espécies pré-históricas, os répteis somam nada menos que 21 ordens, evidenciando que o grupo já foi muito mais diversificado. Os dinossauros, pterossauros e répteis marinhos (principalmente os ictiossauros e plesiossauros) são os seus representantes fósseis mais famosos.
Os crocodilianos sempre estiveram entre os que mais atraem a atenção do ser humano, num misto de fascínio e temor. Esses predadores habitam as regiões tropicais e subtropicais, vivendo geralmente em rios, lagos e pântanos; sendo que algumas espécies também ocorrem em marinas, manguezais e até braços de mar. Possuem os maiores e mais complexos cérebros entre os répteis atuais e são os únicos cujo coração é completamente dividido em quatro cavidades (duas aurículas e dois ventrículos), à semelhança dos mamíferos e as aves – embora diferente desses, a separação entre o sangue venoso e o sangue arterial durante a circulação ainda não seja completa. São também os únicos que cuidam dos seus filhotes – há espécies de serpentes píton que cuidam apenas dos ovos, abandonando-os logo após a eclosão. Apesar de toda a fama que os precede, nota-se grande confusão por parte do grande público quando se trata de diferenciar os representantes dessa ordem. Entre os equívocos mais comuns figuram a afirmação de que crocodilos e jacarés são a mesma coisa ou que a diferença entre eles estaria no tamanho (crocodilos seriam maiores). Conforme explicarei a seguir, os critérios para defini-los como tais são outros.
Lembrando o que mencionei nos meus posts “O Que é um Dinossauro?” e “Divididospor um Osso”, dinossauros (superordem Deinosauria), crocodilianos (Crocodylomorpha), pterossauros (Pterosauria) e tecodontes (Thecodontia) formam o grande grupo denominado arcossauros (Archosauria). Os primeiros crocodilianos surgiram no período Triássico, pouco antes dos primeiros dinossauros, (há 235 milhões de anos), a partir dos tecodontes – evidências fósseis e anatômicas indicam que os tecodontes seriam os ancestrais dos demais arcossauros. Mas os tipos atuais (subordem Eusuchia) só apareceriam no período Cretáceo (há cerca de 85 milhões de anos). Diferentes das espécies modernas, os primeiros crocodilianos eram animais completamente terrestres. Ao longo do período Jurássico desenvolveram diferentes adaptações, desde tipos de hábito anfíbio como os atuais até espécies totalmente adaptadas à vida marinha. Aos interessados em maiores detalhes a respeito da evolução e taxonomia desses animais indico os seguintes links, do excelente site Palaeos.




Mas quais seriam afinal as diferenças entre um crocodilo e um jacaré? Primeiramente, cabe esclarecer que o tamanho não é um critério seguro para esse fim. Como veremos, há espécies de crocodilos menores que a maioria dos jacarés. Os crocodilianos atuais são divididos em três tipos diferentes (ou três famílias, taxonomicamente falando), num total de 25 espécies. 

Crocodilo de água salgada (Crocodylus porosus).

Os crocodilos (família Crocodylidae) constituem a maioria das espécies: três nas Américas e as demais espalhadas pela África, Índia, Sudeste Asiático e norte da Oceania. A palavra deriva do grego krokodeilos (kroké = pedra, drilos = verme), inspirado pela visão desses animais tomando sol sobre rochas e bancos de areia. O tamanho varia de menos de 2m até 8,5m de comprimento – o crocodilo de água salgada ou crocodilo de estuário, atualmente o maior réptil do mundo. 

Jacaré de papo amarelo (Caiman latirostris).

A denominação brasileira jacaré (do tupi iakaré) e a norte-americana aligator (provável corrupção fonética para o inglês de el lagarto, termo um tanto respeitoso por parte dos primeiros colonizadores espanhóis) são usadas para o mesmo tipo de animal (família Alligatoridae), que na maior parte do mundo é conhecido como caiman e como caimão em alguns países de língua portuguesa. São seis espécies na América do Sul, uma no sudeste dos Estados Unidos (a única a viver num clima um pouco mais frio), e uma na China. Alguns mal chegam a um metro de comprimento, mas o aligator americano (Alligator mississipiensis) e o jacaré Açu (Melanosuchus niger) são os gigantes da família, podendo chegar a 6m. A maioria mede entre 2m e 2,5m. Com exceção das duas espécies maiores, movem-se em terra firme com maior desenvoltura que os outros crocodilianos e os menores até escalam troncos caídos.


Gavial do Ganges (Gavialis gangeticus) macho.

Muita gente desconhece o terceiro tipo (família Gavialidae), representado por uma única espécie (alguns autores atualmente preferem incluir uma segunda espécie, que comentarei a seguir): o gavial do Ganges, que apesar dos assustadores 7m de comprimento é inofensivo para seres humanos. Esse animal é facilmente reconhecido pelas mandíbulas muito longas e estreitas, uma especialização para capturar peixes. Ocorre na bacia hidrográfica do rio Ganges, na Índia, onde é considerado sagrado pelo povo hindu. Gavial é a latinização do nome gharial, inspirado pela protuberância que os machos apresentam na região das narinas (possível chamariz sexual), que lembraria uma ghara, tipo de tigela indiana.
Seguem as principais diferenças entre essas três famílias. Propositalmente exclui aquelas mais específicas, concentrando-me nas que seriam facilmente observáveis por qualquer pessoa, uma vez que dizem respeito à estrutura do crânio e dentição. 


Diferenças anatômicas (crânio e dentição) entre crocodilos, jacarés e gaviais (de crocodilians.com).

Crocodilos (família Crocodylidae):
  • Cabeça em formato triangular.
  • Dentes de tamanhos variados, visíveis tanto na mandíbula superior quanto na mandíbula inferior quando o animal está de boca fechada, lembrando um sorriso.
  • Narinas muito próximas.

Jacarés (família Alligatoridae):
  • Cabeça mais curta e mandíbulas mais arredondadas em comparação com os crocodilos.
  • Dentes de tamanhos variados, sendo que os grandes dentes da mandíbula inferior se encaixam sob cavidades da mandíbula superior quando o animal fecha a boca, deixando apenas os dentes superiores visíveis.
  • Narinas mais afastadas.

Gavial (família Gavialidae):
  • Caixa craniana mais curta em comparação com os demais crocodilianos; mandíbulas extremamente longas e estreitas.
  • Cerca de cem dentes de tamanho uniforme, quase todos visíveis quando o animal fecha a boca.
  • Narinas muito próximas e muito elevadas, dando à parte anterior das mandíbulas um aspecto arredondado e formando uma protuberância, mais acentuada nos machos.

A estrutura da mandíbula, bem como o tamanho e a disposição dos dentes estão diretamente ligados ao tipo de presa. Quase todos os crocodilianos são predadores generalistas e oportunistas, caçando praticamente qualquer animal que tenham força para abater e não dispensando nem carniça. Mandíbulas largas com dentes de tamanhos diferentes indicam variedade no tamanho e forma das presas. As mais comuns são peixes, insetos, crustáceos, anfíbios, além de répteis, aves e mamíferos de pequeno porte (incluindo crocodilianos menores). As espécies maiores acrescentam à sua dieta tartarugas e também mamíferos e aves de maior tamanho. Animais terrestres que se aproximam para beber são arrastados para a água e afogados. Como a morfologia das mandíbulas torna esses répteis incapazes de mastigar, as presas pequenas são geralmente engolidas inteiras, enquanto as maiores são despedaçadas com vigorosos movimentos de cabeça e giros de corpo. Os músculos que abrem a boca são fracos (a ponto de um homem poder mantê-la fechada apenas usando ambas as mãos), mas os que a fecham são incrivelmente fortes, com um impacto de até 15 toneladas nas espécies maiores (ERICKSON; LAPPIN; VLIET, 2004) - mais que suficiente para impedir a fuga da presa ou decepar um membro. A grande exceção é o gavial do Ganges, especializado na captura de peixes e apenas ocasionalmente alimentando-se de restos de animais mortos, anfíbios e pequenas aves aquáticas. Há ainda duas espécies de crocodilo, conhecidas como “falsos gaviais”, que apresentam um focinho mais estreito e dentes com menor diferença de tamanho em comparação aos outros membros da família. Tal anatomia denota uma preferência por peixes, além da incapacidade de capturar animais maiores, o que os torna um tanto próximos nos hábitos alimentares ao gavial do Ganges, ainda que com uma diversidade um pouco maior de presas. Adaptação semelhante é encontrada nos dinossauros da família Spinosauridae (Spinosaurus, Angaturama, Baryonix). Tudo indica que esses animais eram predadores ativos, mas suas mandíbulas estreitas constituem evidência de uma dieta especializada em presas menores. Restos de peixe, incluindo escamas e dentes, foram encontrados na cavidade estomacal de um fóssil de Baryonix - alguns paleontólogos sustentam que essa espécie também seria carniceira. Embora grandes e fortes, os Spinossaurídeos provavelmente não seriam capazes de abater as enormes presas de outros dinossauros caçadores gigantes de mordida mais devastadora, como o Allosaurus ou o Tyrannosaurus rex (veja meu post “Predador ou Carniceiro?” para maiores informações sobre a morfologia e possíveis hábitos alimentares do T. rex).

Gavial/falso gavial da Malásia (Tomistoma schlegelii).

Recentemente a análise filogenética do falso gavial da Malásia revelou uma maior semelhança e, consequentemente, um maior parentesco dessa espécie com o gavial do Ganges (WILLIS et al., 2007). Ainda que sua morfologia a aproxime dos crocodilos (PIRAS et al., 2010), alguns taxonomistas, priorizando as afinidades moleculares, passaram desde então a considerá-la como um gavial verdadeiro. Alcançando facilmente os 6m, também não oferece perigo ao homem.
O habito de caçador oportunista, que “não escolhe” as suas presas, acaba sendo o grande responsável pelo fato de alguns crocodilianos serem os únicos predadores que caçam efetivamente seres humanos. Leões, tigres, onças, hienas, ursos pardos e polares podem atacar pessoas quando escasseiam as suas presas habituais ou quando ficam impedidos de fazê-lo por um ferimento, doença ou velhice. Ocorre que esses crocodilianos não possuem o que se poderia chamar de presas habituais. Para eles, humanos são presas como qualquer outra. Há vários episódios documentados pelo mundo, de pessoas devoradas a amputações, perfazendo uma média de dois milhões de ataques por ano. O maior número de relatos de ataques vem da África, Sudeste Asiático e Austrália, tendo como principais vítimas, além dos povos nativos desses locais, os turistas japoneses – conhecidos por sua imprudência, aproximando-se demais e sem a mínima segurança por uma boa foto ou filmagem. Para aqueles de curiosidade mais mórbida, há vários flagrantes em vídeo disponíveis na internet de turistas nipônicos descuidados que viraram comida de ursos kodiak, crocodilos de água salgada ou grupos de leões – e é sempre bom avisar: são cenas muito fortes, totalmente desaconselháveis para cardíacos e os mais impressionáveis. O aligator americano também já fez vítimas humanas, assim como o crocodilo americano (C. acutus) com sua ampla distribuição geográfica, do sul da Flórida ao Equador. Na Amazônia registram-se ataques do jacaré Açu, enquanto na Venezuela e na Colômbia há dois ou três relatos envolvendo o crocodilo de Orinoco (C. intermedius), cujo comprimento pode chegar a 7m.
A maioria das espécies de crocodilianos ainda corre sério risco de extinção. Muitas ainda são caçadas pelo valor comercial da sua pele, mesmo depois da criação de fazendas de jacarés e crocodilos pelo mundo. As maiores são alvos frequentes da caça esportiva. Mas o maior inimigo desses animais é mesmo a degradação dos seus habitats. Alguns como o gavial do Ganges, vivem em locais onde o desmatamento e a poluição atingiram níveis alarmantes. Outros como o crocodilo de Orinoco e o aligátor americano estão confinados a áreas extremamente pequenas. Faz parte dos deveres daqueles que lidam com o ensino de ciências e a educação ambiental o esclarecimento aos demais que esses magníficos répteis, que estão aqui há muito mais tempo que nós, têm seu lugar na natureza. Você não precisa querer abraçar um crocodilo ou nadar ao seu lado. Mas ele tem o mesmo direito à Terra que você. E por isso merece o mínimo respeito.


terça-feira, junho 11, 2013

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Em complemento aos meus antigos posts Ciência e Trabalho Científico e Os Métodos Científicos, segue um esquema resumido e bastante didático (esboço) do método científico, disponível na web. Notem que antes de mais nada, para proceder uma análise científica de uma situação, os fatos precisam ser verificáveis – uma das características fundamentais que diferenciam a verdadeira ciência da pseudociência. A observação efetuada deve ser sistemática (obedecendo a uma metodologia) e controlada. Como consequência, as hipóteses decorrentes do método tornam-se testáveis e falseáveis por qualquer cientista que se dispuser a fazê-lo. Consultem os textos citados para informações mais detalhadas.

sábado, dezembro 15, 2012

MAIS SOBRE VIDA EXTRATERRESTRE

Como complemento aos meus posts anteriores referentes à possibilidade de vida extraterrestre, segue um excelente texto do engenheiro químico e consultor empresarial Francisco Quiumento, onde o mesmo inclui como fatores a serem considerados o nível civilizatório e a escala econômica de uma cultura:

http://francisco-scientiaestpotentia.blogspot.com.br/2012/12/aliens-ou-vida-extraterrestre-iii.html

Boa leitura.


terça-feira, dezembro 04, 2012

AS MUDANÇAS NA EQUAÇÃO DE DRAKE

Frank Drake e sua equação (foto: divulgação).


Na minha palestra “Vida na Terra e Vida Extraterrestre”, cujo resumo pode ser conferido neste blog (e lembrando que todos os leitores são livres para divulgá-lo e mesmo imprimi-lo, desde que mantidos os devidos créditos), mencionei a famosa equação do Professor Emérito de Astronomia e Astrofísica pela Universidade da Califórnia e grande amigo de Carl Sagan (1935-1996), Dr. Frank Donald Drake. Essa equação visa estimar a quantidade de civilizações extraterrestres cujo nível tecnológico permitiria a emissão de sinais de rádio a nível galáctico e, consequentemente, um possível contato com o planeta Terra. Como complemento ao material supracitado e principalmente para maiores esclarecimentos, tomei a decisão de apresentá-la, incluindo as mudanças que ocorreram na mesma desde quando foi elaborada, em 1961.
A Equação de Drake, como ficou conhecida, se popularizou por meio da série de TV e do livro “Cosmos” (1980) de Sagan, além de ter sido divulgada em numerosos outros livros sobre Astronomia, bem como de pseudociência, como Eram os Deuses Astronautas?” (1968) de Erich Von Däniken, em revistas de ufologia etc. Apesar de figurar em algumas publicações de credibilidade duvidosa (que via de regra, distorcem tendenciosamente os seus resultados, como veremos a seguir), a equação é séria, bem fundamentada e, diga-se de passagem, extremamente simples:




Onde as estimativas originais de Drake foram as seguintes:

R* = número de estrelas da Via Láctea. Estimativa: 200 bilhões.
fp = fração estimada de estrelas com planetas orbitando ao redor (0,5).
ne = fração estimada de planetas em um dado sistema, ecologicamente adequados para o desenvolvimento de vida (entre 0,1 e 1,0).
fl = fração estimada de planetas onde a vida se desenvolveu (entre 0,1 e 1,0).
fi = fração estimada de planetas onde se desenvolveu vida inteligente – consciência, raciocínio e cultura. (1,0).
fc = fração estimada de planetas habitados por vida inteligente onde se desenvolveu uma civilização capaz de se comunicar (0,1 a 0,9).
L= fração estimada de tempo em que essa civilização enviou sinais (0,000001).
N= número estimado de civilizações tecnicamente avançadas na Via Láctea (100 mil).


Pseudocientistas e charlatões dos mais diversos tipos adoram distorcer esse valor final, indo de resultados que vão de 200 mil até a casa dos milhões. Justamente pela sua simplicidade, a Equação de Drake possui variáveis que permitem uma gama considerável de resultados. Isso porque Drake estava preparado para possíveis descobertas científicas que pudessem alterar o resultado inicialmente obtido. De fato, ele nunca afirmou que esse número era definitivo. Na verdade, nenhum cientista realmente ético faria algo semelhante numa situação dessas. E é de conhecimento geral como pessoas de má fé utilizam brechas em coisas que vão de legislações a teorias científicas para criar seus embustes. Entretanto, muitos pesquisadores, especialmente da área das ciências biológicas, observam que ele foi por demais otimista nas suas conclusões. Na verdade, ele realmente cometeu um equívoco muito comum por parte daqueles que não estão familiarizados com a evolução biológica.
Antes, porém, comentarei outras alterações feitas na equação ao longo dessas cinco décadas. Duas delas são particularmente interessantes, apesar de interferirem pouco no resultado estipulado por Drake. O astrofísico norte-americano Michael Seeds no seu livro “Horizons: Exploring the Universe” (1993) relaciona o número de estrelas atualmente existente na galáxia, N*, com a taxa de formação de estrelas. Em 2005 Alexander Zaitsev, engenheiro e astrônomo da Academia Russa de Ciências incluiu as variáveis nr (“Número de Reaparição”, o número médio de vezes que uma civilização nova reaparece no mesmo planeta após a extinção de uma civilização anterior, que teria surgido uma única vez) e fm (“Fator de Comunicação”, a fração de civilizações comunicativas que realmente se interessariam por transmissão interestelar), logo após a variável fc. Esses fatores provocam uma alteração mínima no resultado final (no máximo um aumento de 1%), mas especialmente as duas novas variáveis merecem atenção, uma vez que o ser humano não se comunica ativamente por sinais de rádio interestelar (com única exceção do episódio do radiotelescópio de Arecibo, o projeto SETI apenas recebe sinais, não os envia) e a possível extinção de uma civilização seguida pela ascensão de outra é um fator a ser considerado.
A coisa realmente começou a mudar quando vários astrônomos e astrofísicos perceberam o risco de colisão ou severa mudança climática causada por perturbação gravitacional decorrente da aproximação a algum objeto massivo. Óbvio que a gravidade exercida pela estrela não permite que um planeta escape da sua órbita e saia vagando por aí. Ocorre que as estrelas também se movem. As galáxias estão sempre em movimento. E existe o risco real de uma colisão ou desestabilizadora aproximação com outra(s) estrela(s), inclusive de que os planetas que orbitam a estrela em questão colidam com outras estrelas ou com planetas de outras estrelas, ou sejam bombardeados por objetos semelhantes à nossa nuvem de Öort ou nosso cinturão de Kuiper, entre outros fatores que poderiam extinguir a vida num planeta qualquer. Além disso, não se pode esperar que a órbita do Sol ou outra estrela localizada nas regiões periféricas da galáxia sejam estáveis a longo prazo. Esse fator torna o resultado final no mínimo 100 vezes menor daquele que Drake presumiu.
Mas o fator que altera definitivamente o resultado da Equação de Drake diz respeito à evolução da vida na Terra. Drake estipulou que o surgimento de vida considerada inteligente seria inevitável num planeta onde simplesmente a vida já existisse (fi = 1,0, ou seja, 100% de chance). Contudo, o atual conhecimento sobre os processos evolutivos mostra que acreditar nisso seria no mínimo ingênuo. No último capítulo do seu livro “Vida Maravilhosa” (1989), o paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002) aponta que a história da vida na Terra apresentou muitas possibilidades, das quais poucas sobrevivem nos dias atuais. Ele propõe imaginarmos essa história como um filme, onde podemos retornar e pausar certas cenas, observando que pequenas mudanças nelas poderiam fazer toda a diferença. A hipótese da Terra Rara, que surgiu com o livro de mesmo nome (Ward & Brownlee, 2000) expõe de maneira bastante didática porque a vida multicelular seria um fenômeno raro, ainda que a vida formada por seres unicelulares possa ser relativamente comum no universo. Conforme explico no material supracitado, a evolução biológica não possui qualquer direção ou propósito, e uma pequena mudança durante o processo (extinções em massa, troca de material genético etc) pode alterar todo o seu curso. Ela é marcada pelo acaso. Como dito anteriormente, trata-se um equívoco relativamente comum por parte dos não biólogos. Os críticos podem argumentar que conhecemos apenas um tipo de vida e que o universo pode conter vida totalmente diferente daquilo que conhecemos como vida, inclusive com uma evolução totalmente diferente. Todavia, isso não muda os fatos. Primeiro porque não temos qualquer evidência de tais formas de vida. Segundo porque as hipóteses nesse sentido, como as que lidam com elementos químicos que possam substituir aqueles que conhecemos como constituintes básicos do seres vivos (silício no lugar do carbono, arsênio no lugar do fósforo etc.), mostram que essa suposta vida exótica seria ainda mais rara. E terceiro que uma provável biosfera diferente de tudo aquilo que conhecemos como vida será tratada como algo diferente, talvez até mesmo dando origem a toda uma nova área da ciência para estudá-la.
O fator do acaso relacionado à evolução biológica faz com que o resultado final da Equação de Drake seja um modesto número entre 0 e 10. Alguns pesquisadores arriscam um valor de apenas duas civilizações avançadas na nossa galáxia capazes de se comunicar conosco (resultado = 2,31). Há aqueles que afirmam que sejamos únicos na Via Láctea. E há ainda os mais otimistas, defendendo a existência de um número maior de civilizações menos avançadas, com as quais não poderíamos nos comunicar – um número que poderia chegar a 200. De qualquer maneira, se não estamos sozinhos, nossos vizinhos mais próximos devem estar a muitos anos-luz de distância.


Bibliografia recomendada:
DAWKINS, Richard, A Grande História da Evolução, Companhia das Letras, 2009.
GOULD, Stephen Jay, Vida Maravilhosa, Companhia das Letras, 1990.
SAGAN, Carl, Cosmos, Villa Rica,1983.
SEEDS, Michael A. e BACKMAN, Dana, Horizons: Exploring the Universe, Brooks Cole, 12º ed., 2012.
WARD, Peter D. e BROWNLEE, Don, Terra Rara, Campus, 2000



terça-feira, novembro 27, 2012

MINHAS PALESTRAS NO IV ENCONTRO DE COSMOS



VIDA NA TERRA E VIDA EXTRATERRESTRE

Dia 01/12, sábado, 17h.

Poucas coisas na Terra são tão fascinantes quanto à diversidade de seres vivos que a povoa. E um dos maiores mistério da ciência é como a vida teria surgido. Embora hoje já se tenha uma ideia de quando a vida terrena começou, ainda não sabemos como esse fenômeno tão singular teve origem. O mistério torna-se ainda maior se pensarmos na vida não apenas no nosso planeta, mas no universo. Seria a vida um fenômeno universal ou localizado? Seria ela a regra no cosmo ou uma grande exceção? É possível que haja vida em outros planetas? Se sim, eles seriam parecidos conosco? Existiria vida em Marte?
Carl Sagan tinha especial interesse na busca por vida extraterrestre e se uniu a especialistas de diversas áreas numa verdadeira caça a evidências nesse sentido, ao mesmo tempo em que repudiava formas não científicas fazê-lo. Tal atitude pioneira é considerada a semente da área de pesquisa científica interdisciplinar hoje conhecida como Astrobiologia.
Nesta palestra será abordado o conceito de vida, a história da vida na Terra, os mecanismos evolutivos, a possibilidade de vida fora da Terra e as pesquisas nessa área. Também serão tratados conceitos errôneos e idéias deturpadas presentes no senso comum referentes à evolução biológica e à possibilidade de vida extraterrestre.

Referências:
  • ASIMOV, Isaac, Civilizações Extraterrenas, Nova Fronteira, 1980.
  • DAWKINS, Richard, A Grande História da Evolução, Companhia das Letras, 2009.
  • GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, Record, 2010.
  • GOULD, Stephen Jay, Darwin e os Grandes Enigmas da Vida, Martins Fontes, 1992.
  • GOULD, Stephen Jay, Vida Maravilhosa, Companhia das Letras, 1990.
  • SAGAN, Carl, Cosmos, Villa Rica, 1983.
  • SAGAN, Carl, O Mundo Assombrado Pelos Demônios, Companhia das Letras, 1995.
  • WARD, Peter D. e BROWNLEE, Don, Terra Rara, Campus, 2000.

Na WEB:





MICROORGANISMOS: UMA VISÃO CÓSMICA

Dia 02/12, domingo, 16h.

Além de serem as mais antigas formas de vida, os seres unicelulares (constituídos por uma única célula) estão literalmente por toda parte: da água que bebemos ao interior de todos os seres multicelulares. Nas palavras do paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002): “As bactérias representam o grande sucesso da história da trajetória da vida. Elas ocupam domínio mais amplo de ambientes e possuem variabilidade bioquímica maior que qualquer outro grupo. São adaptáveis, indestrutíveis e surpreendentemente diversificadas”. Em seu livro “Microcosmos” (2004) Lynn Margulis (1938-2011), microbióloga e ex-esposa de Carl Sagan, defende que esses seres seriam os grandes “condutores” da evolução da vida na Terra. Além disso, alguns dos mais simples desses seres, denominados extremófilos, vivem em locais cujas características físico-químicas seriam letais para qualquer forma de vida mais complexa. Entenda porque esses seres tão pequenos são os verdadeiros senhores do planeta e nunca são ignorados no planejamento das viagens espaciais.

Referências:
  • ALTERTHUM, Flávio e TRABULSI, Luiz Rachid, Microbiologia, Atheneu, 2008.
  • FUTUYMA, Douglas J., Biologia Evolutiva, Funpec, 2003.
  • HORIKOSHI, Koki e GRANT, W. D., Extremophiles – Microbial Life in Extreme Environments, John Wiley, 1998.
  • MARGULIS, Lynn e SAGAN, Dorion, Microcosmos – Quatro Bilhões de Anos de Evolução Microbiana, Cultrix, 2004.
  • SAGAN, Carl, Cosmos, Villa Rica, 1983.
  • UJVARI, Stephan Cunha, História e suas Epidemias – A Convivência do Homem com os Microorganismos, Senac Rio, 2003.
  • WARD, Peter D. e BROWNLEE, Don, Terra Rara, Campus, 2000.

Na WEB:




quarta-feira, novembro 14, 2012

IV EVENTO DE COSMOS



E estamos aí novamente, pelo quarto ano consecutivo. Para aqueles que ainda não conhecem esse evento anual, ele celebra a obra do astrônomo e pioneiro da divulgação científica junto ao grande público, Carl Sagan (1934-1996). O encontro conta desde a sua primeira edição com um ciclo de palestras, apresentações de vídeos da série Cosmos e exposições.
A série televisiva Cosmos, criada por Sagan e lançada inicialmente em 1980, chegou ao Brasil em 1982 e obteve grande sucesso no mundo inteiro. O tema principal da série era a Ciência e as relações dela com a vida na Terra e em seus episódios foi possível conhecer um pouco mais sobre os outros planetas, quasares e questões ecológicas que afetam diretamente a sobrevivência da raça humana no planeta. O grande mérito da série foi ter antecipado problemas ambientais que nos afetam hoje em dia, como o efeito estufa e o aquecimento global.
Carl Sagan foi um homem sempre a frente de seu tempo, uma pessoa sem medo de errar e que ensinou gerações adquirirem amor pela ciência e o planeta Terra.

Local: Escola Municipal de Astrofísica - Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 10 (para pedestres) ou portão 3 para estacionamento - Parque do Ibirapuera, São Paulo/SP


PROGRAMAÇÃO*

Dia 01/12 (sábado):

13h00 – Bate papo com Danilo Beyruth
Danilo Beyruth é ilustrador e quadrinista brasileiro, responsável pela quadrinização de O Astronauta Magnetar.

14h00 – Exploração e Colonização: o Sistema Solar e Além - A humanidade sempre explorou, fazendo as mais importantes descobertas que alteraram profundamente seu modo de vida. A nova fronteira da exploração é o espaço, e se não possuímos ainda as fabulosas naves da ficção científica, com nossos robôs e telescópios temos realizado uma nova era de descobrimentos que revolucionaram nosso entendimento do universo e de nosso lugar nele. Nesta palestra são abordadas as histórias dessas viagens de descobrimento, os meios com que foram realizadas, e o que está por vir no futuro próximo.
Renato Azevedo

15h00 – Planeta Terra: a relação entre o ser humano e o ecossistema - Um dos temas mais discutidos atualmente nas mídias e meios de comunicação é o meio ambiente, propostas de recuperação e preservação ambiental, conceitos de sustentabilidade, ideias novas, grandes e pequenas, para a solução ou pelo menos a mitigação de problemas ambientais causados pelo próprio ser humano. Mas, tais propostas são viáveis? Será possível manter o desenvolvimento tecnológico e o crescimento populacional diminuindo os impactos causados ao ecossistema? Quanto tempo o planeta resiste? Convidamos a todos à discussão e reflexão.
Melina Alvarez

16h00 – Planetas Extrasolares - Há muito a humanidade tem questionado se existiriam planetas fora do nosso Sistema Solar, se seriam parecidos com a Terra e se neles poderia haver vida.  Com o avanço da tecnologia as descobertas nesse campo têm crescido a uma velocidade espantosa, e mais de 800 planetas extrasolares já foram descobertos até o momento.  Quais suas características?  Como são seus sistemas planetários?  Estão em órbita de estrelas parecidas com nosso Sol?  Poderiam abrigar vida? Tais questões serão discutidas nesta palestra, bem como as mais recentes descobertas.
Silvia Reis

17h00 – Vida na Terra e Vida Extraterrestre - Poucas coisas na Terra são tão fascinantes quanto à diversidade de seres vivos que a povoa. E um dos maiores mistério da ciência é como a vida teria surgido. Embora hoje já se tenha uma idéia de quando a vida terrena começou, ainda não sabemos como esse fenômeno tão singular teve origem. O mistério torna-se ainda maior se pensarmos na vida não apenas no nosso planeta, mas no universo. Seria a vida um fenômeno universal ou localizado? Seria ela a regra no cosmo ou uma grande exceção? É possível que haja vida em outros planetas? Se sim, eles seriam parecidos conosco? Existiria vida em Marte?
Átila Oliveira

18h00 – Apocalipse - Quais as verdadeiras causas de um eventual fim do mundo? Elas não estão escritas em tábuas de argila, calendários ou em algum documento. Elas são os atos do dia-a-dia do ser humano. Neste bate papo, confira o que pode levar a humanidade ao seu verdadeiro fim.
Alan Uemura e Átila Oliveira


Dia 02/12 (domingo):

13h00 – Presente de um Mundo Distante - Lançada como um bilhete dentro de uma garrafa no imenso oceano cósmico, a mensagem do disco dourado na Voyager diz muito mais a respeito do anseio da raça humana em encontrar aqueles que, não importa o quão avançados (ou não) sejam, poderão ser considerados seus iguais. Somos todos “poeira das estrelas”, lançando olhares assombrados e esperançosos para a imensidão do universo.
Douglas Camillo Reis 

14h00 – Clonagem - Pessoas criadas geneticamente seriam as melhores para a exploração espacial? Como a ciência e a ficção vêem essa questão?
Grupo Galáctica

15h00 – Vida e Morte das Estrelas - Ao olharmos para o céu noturno podemos observar as estrelas, que nos parecem belas, eternas e imutáveis.  Mas na verdade o universo está em constante transformação.  As estrelas são todas iguais?  Qual seu tempo de vida?  Como nascem e morrem?  Conheça mais sobre esses astros, suas características como composição química e temperatura, e descubra que somos todos “poeira de estrelas”.
Silvia Reis

16h00 – Microorganismos: Uma Visão Cósmica - Além de serem as mais antigas formas de vida, os seres unicelulares (constituídos por uma única célula) estão literalmente por toda parte: do ar que respiramos ao interior de todos os seres multicelulares. Nas palavras do paleontólogo norte-americano Stephen Jay Gould (1941-2002): “As bactérias representam o grande sucesso da história da trajetória da vida. Elas ocupam domínio mais amplo de ambientes e possuem variabilidade bioquímica maior que qualquer outro grupo. São adaptáveis, indestrutíveis e surpreendentemente diversificadas”. Em seu livro “Microcosmos” (2004) a microbióloga Lynn Margulis (1938-2011), defende que os microorganismos seriam os grandes “condutores” da evolução da vida na Terra. Além disso, alguns dos mais simples desses seres, denominados extremófilos, vivem em locais cujas características físico-químicas seriam letais para qualquer forma de vida mais complexa. Entenda porque esses seres tão pequenos são os verdadeiros senhores do planeta e nunca são ignorados no planejamento das viagens espaciais.
Átila Oliveira 

17h00 – Explorando o Sistema Solar e Além: Viagens Espaciais Tripuladas - O ser humano sempre teve o impulso inato de explorar, e graças a isso saímos das cavernas, realizamos as grandes navegações e descobrimentos, e já começamos a explorar nosso sistema solar. Seguindo o "pequeno passo" de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua na missão Apollo 11, será apresentado um histórico das principais missões espaciais já realizadas, além de projeções para o futuro.
Renato Azevedo 

18h00 – Fator Humano na Exploração Espacial - O que seria necessário para o homem viajar pelo espaço? As grandes ameaças a uma missão espacial afetariam o bem-estar mental da tripulação e a forma como o astronauta irá interagir uns com os outros.
Alan Uemura



PALESTRANTES

Alan Uemura: Jornalista e editor do site Aumanack – Diversãosem Limites.
Átila Oliveira: Biólogo e educador; mantém o blog Pegadas de Um Dinossauro do Século XXI.
Douglas Camillo Reis: Escritor e astrônomo amador.
Melina Alvarez: Bióloga atuante na área de ecologia e meio ambiente.
Renato Azevedo: Escritor e engenheiro eletrônico.
Silvia Reis: Astrônoma amadora, psicopedagoga e autora de 10 livros na área da educação.

(*) Programação sujeita à alterações.

Organização: Aumanack e Cosmos Legacy.

segunda-feira, setembro 03, 2012

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