quinta-feira, setembro 30, 2010

VOCÊ É UM PSEUDOCIENTISTA SE...

- Você pensa que a maior parte da ciência é desenvolvida em garagens.
- Pensa que os cientistas são inflexíveis para mudar paradigmas (usando uma das palavras favoritas dos pseudocientistas).
- Pensa que o governo, cientistas tradicionais e grandes empresas fazem parte de uma grande conspiração para impedir os pseudocientistas, ou cientistas com "visão" (como eles preferem ser chamados), de mostrar a "verdade".
- Pensa que a ciência é utilizada somente para iniciar um negócio e ganhar dinheiro.
- Você fala aos quatro ventos que a visão do universo sempre esteve errada e que tudo deve ser reformulado.
- Sua formação acadêmica (se você tiver alguma) não tem nenhuma relação com as suas "pesquisas".
- Adora citar física quântica (mesmo sem entendê-la) para corroborar suas idéias.
- Cita seguidamente frases de cientistas clássicos (em geral totalmente fora de contexto) para dar mais veracidade ao que está falando.
- Faz uso do método científico apenas quando este lhe convém, afirmando que a ciência atual é "falsa" e "materialista" quando tenta incluir uma variável não mensurável ou não empírica (testável) nas suas "pesquisas".
- Diz conhecer aparelhos tais como: energizador, canalizador, moto perpétuo etc.

SOBRE CIÊNCIA E FÉ


Há alguns anos conclui, por experiência própria, que muitas das pessoas que dizem não acreditar na Teoria da Evolução, na verdade possuem uma idéia completamente equivocada a seu respeito. De fato, não se pode acreditar ou não numa teoria científica, pois a mesma não constitui algo no qual se deva ter fé, mas sim a descrição de um fenômeno da natureza (ver meu texto Ciência e Trabalho Científico). Uma teoria é a representação científica de um fato. Não gostar ou “não acreditar” nela não faz com que tal fato deixe de existir. No caso específico da evolução biológica, por mais ofensiva que ela possa parecer para alguns, mais que uma simples idéia, trata-se de uma realidade. Ao contrário do que pensam os mais egocêntricos, os princípios que fazem o universo ser como é não estão nem aí para aquilo que gostamos ou achamos. A natureza não foi feita para atender aos nossos anseios humanos, nós é que somos criações dela. Outros profissionais da área com os quais tenho contato chegaram à mesma conclusão por experiências parecidas. E ambos chegamos à outra conclusão igualmente interessante: a maioria destas mesmas pessoas, quando passa a compreender o que realmente significa a Teoria da Evolução dos seres vivos, muda de idéia. O que nos leva a uma terceira conclusão, que pode parecer um tanto óbvia para quem lida com ciência, mas que ainda não atingiu o grande público de maneira satisfatória: informação transmitida de maneira adequada evita uma série de problemas, nas mais diversas esferas das relações humanas.
A dificuldade em aceitar a teoria proposta por Charles Robert Darwin e Alfred Russell Wallace foi a semente (trocadilho proposital) que originou o chamado movimento criacionista. O criacionismo sequer merece a qualificação de pseudociência, pois nem ao menos se dá ao trabalho de parecer científico – mesmo a sua versão mais moderna, intitulada design inteligente (ID, em inglês), carece do mínimo de metodologia científica. Baseados geralmente (mas nem sempre) em interpretações da bíblia cristã, os criacionistas afirmam que a evolução biológica não existe e que toda a vida na Terra surgiu de uma só vez, por um ato divino. Espécies extintas como dinossauros e mamutes teriam sucumbido devido a fenômenos como o dilúvio bíblico. Como é costumeiro em tais situações, os criacionistas não possuem qualquer evidência das suas argumentações, resumindo-se ao uso recorrente de falácias e procura (em vão) de falhas na teoria evolutiva. O uso da desonestidade intelectual pelos criacionistas (indo de argumentos de autoridade a distorção de fatos) é notória. Abordarei mais profundamente o criacionismo num momento oportuno. O que posso adiantar agora é o fato de que a existência de tais idéias apenas contribui para interpretações equivocadas sobre a evolução biológica junto ao público não especializado.
Um fator determinante nestas noções populares incorretas é a idéia equivocada de que a ciência, em especial teorias como a da evolução, estariam diretamente ligadas ao ateísmo. Partindo deste princípio, tais teorias negariam a existência de um Criador; atribuindo a origem e evolução de toda a vida na Terra ao acaso. Este é o argumento mais utilizado, muitas vezes de forma velada ou inconsciente, por indivíduos religiosos com pouco ou nenhum conhecimento sobre ciência, para justificar seu repúdio à mesma. Muitos desses, conforme citei anteriormente, mudam de idéia quando conhecem o verdadeiro conceito de evolução biológica. De fato, a teoria evolutiva, ou qualquer outra teoria científica não procura provar a existência ou inexistência de um Criador, pois a ciência não abrange conhecimentos que não dizem respeito ao mundo natural da matéria e energia. Lembremos que, no meu texto supracitado, afirmo que uma das características fundamentais da ciência é lidar apenas com o que for mensurável. Ocorre que o conceito de divindade não tem como ser algo mensurável. Portanto, a ciência não pode ser contrária a Deus (ou deuses), pois a noção de uma divindade sequer faz parte do seu objeto de estudo. Prova disso é que a maior parte da comunidade científica é composta por indivíduos que apresentam algum tipo de fé. E esse contingente inclui grandes nomes da história da ciência. Isso de forma alguma significa que esses cientistas sejam melhores que seus colegas ateus. Significa apenas que fé e ciência são coisas totalmente distintas e justamente por isso, jamais antagônicas ou excludentes. Em geral os cientistas que possuem alguma fé (denominados teístas ou deístas), vêem os fenômenos que estudam como aspectos de uma força superior. Tal postura é impossível de ser questionada sob a lente da metodologia científica.
Mas há quem discorde, embora de maneira pouco convincente. Em resposta ao crescimento do criacionismo e outras formas de fanatismo religioso em países como os EUA, estabeleceu-se nesta década e pela primeira vez na história, uma espécie de militância atéia organizada. Eles são uma minoria, é verdade, mas fazem certo barulho. Tendo como um dos seus líderes mais famosos o biólogo britânico especialista em evolução Richard Dawkins, e afirmando que as religiões são o grande mal do mundo, esses indivíduos defendem que ciência e fé seriam incompatíveis. Na verdade, muitos deles declaram que, para um mundo melhor, todo e qualquer tipo de crença deveria ser varrido do planeta. Contudo, a estratégia adotada por eles é praticamente idêntica a dos fanáticos religiosos, baseando-se em ataques, retórica, generalizações e depreciações, carecendo de argumentação respeitável. O livro que Dawkins escreveu para defender tais idéias, “Deus, Um Delírio”, fica anos luz atrás em termos de qualidade da sua extensa e excelente obra de divulgação científica. Como se vê, o extremismo é o mesmo, só mudando o objeto de culto. Infelizmente, o que os fanáticos ateus não percebem é que essa postura só serve para aumentar o preconceito do público leigo para com a ciência (“a ciência é contra Deus”) e, consequentemente, o seu afastamento.
Também chama especial atenção o crescente número de pseudocientistas que tentam unir ciência e fé, como se fossem caminhos perfeitamente intercambiáveis. Vendendo aos milhares nas prateleiras de auto-ajuda das livrarias, os títulos que tratam deste assunto apresentam pelo menos duas característica comuns a todas as pseudociências: a distorção de conceitos científicos e (muitas vezes em conseqüência disso) a capacidade de se “modelar” ao gosto do freguês, cuidando para que os “fatos” mencionados nunca o desagrade ou ofenda a sua fé pessoal. O mais preocupante é que há alguns cientistas de formação nesse seguimento altamente lucrativo, fazendo uso da desonestidade intelectual para defender conceitos absurdos. Talvez o maior exemplo desta postura totalmente antiética seja o físico indiano Amit Goswami, com suas “provas científicas” da existência de Deus, além da "medicina quântica". Esses indivíduos nada têm de ingênuos ou simplórios: pseudociência defendida por alguém com título acadêmico traz uma imagem de maior credibilidade junto aos leigos. Pobre de quem rala fazendo ciência de verdade, inclusive tendo que mostrar que nada disso é real.
Ao contrário do que bradam os fanáticos (religiosos e ateus), fé e ciência não precisam ser inimigas. Contudo, a fé jamais deveria ser usada no lugar da ciência para explicar o mundo natural, da mesma forma que não seria adequado fazer uso da ciência para adentrar nos princípios exclusivos da fé. Particularmente, costumo ver a relação entre ciência e fé num indivíduo como a de água e óleo num recipiente: nunca se misturando, mas podendo perfeitamente permanecer juntos. Tal analogia pode ser muito pobre do ponto de vista daqueles dotados do talento poético que eu, infelizmente, não possuo. Mas é das mais didáticas. E como cientista e educador, isso pra mim é o que realmente importa.

terça-feira, setembro 28, 2010

SOBRE O DIREITO DE ANULAR O VOTO



O voto em branco e o voto nulo são, na maioria das vezes, uma atitude emocional de quem, desencantado com a política e com os políticos, opta por abdicar de uma responsabilidade de cidadania para com o próprio país.”

A afirmação acima é do megaempresário Emílio Odebrecht, publicada no último domingo pelo jornal Folha de São Paulo, onde o mesmo possui uma coluna semanal. O parágrafo citado me chamou especial atenção pela maneira como o colunista se refere àqueles que não possuem candidatos para as próximas eleições (sempre bom lembrar, obrigatória), que se realizarão no próximo domingo, dia 03 de outubro. O título do texto chega a ser irônico: “Pelo voto consciente”.
Vivemos em um regime político, até certo ponto, democrático – não acredito que sejamos uma verdadeira democracia, mas não cabe discutir isso aqui hoje. Um regime que se pretende democrático inclui o direito de não apreciar a proposta de nenhum candidato vigente e ter uma opinião bem formada sobre isso. Ou seja, inclui o direito de não querer votar em ninguém. Muitos cidadãos bem informados questionam não apenas o ato de votar, como também a obrigatoriedade do voto, defendendo a mudança do pleito para facultativo. Eu particularmente discordo desta postura. Seria de fato ótimo se o voto por aqui não fosse obrigatório, como acontece em alguns outros países. Ocorre que vivemos no Brasil, um país cuja falta de conhecimento e, principalmente, consciência política da maioria da população são notórias; visto a vigente política de pão e circo que vem dando muito certo para aqueles que a praticam. A maior parte dos filiados a partidos políticos no nosso país é formada por fanáticos paternalistas e totalitaristas, cegos e, não raras vezes agressivos, a qualquer tipo de observação crítica. Boa parte dos brasileiros considera perfeitamente natural trocar o seu voto por favores pessoais. Basta o mínimo de capacidade de observação para notar que um bom contingente de cidadãos com tal postura torna-se um rebanho facilmente pastoriável, especialmente se paternalismo e assistencialismo vierem travestidos de consciência política – que na verdade, ao invés de esclarecer, oculta e distorce fatos. Soma-se a isso o circo de aberrações cada vez mais bizarro que se tornou a propaganda política, hoje com tipos que vão de Tiririca a Mulher Pêra. Como disse recentemente uma amiga no Twitter, que saudades do Clodovil!
A impressão que o senhor Emílio Odebrecht me passou, além de preconceituosa, parece típica daqueles intelectuais que conhecem a “realidade” brasileira exclusivamente através do conforto da sua grande e confortável poltrona, sem nunca ter tido contato direto com a mesma. Caso contrário saberia que cidadania é muito mais do que digitar números numa urna eletrônica que muitas vezes corresponde a um indivíduo cujas propostas e histórico político o eleitor desconhece. A coisa é muito mais complexa do que mostra o politiquês jornalístico. Seria realmente uma maravilha se houvesse várias propostas interessantes e confiáveis para escolher, mas sabemos que as coisas não funcionam desta maneira. Aqueles que vivem no mundo real sabem muito bem que as eleições, bem como as candidaturas nelas presentes, estão bem distantes do espetáculo cívico bonito e organizado que esse distinto senhor faz parecer. Na verdade, é uma das melhores representações do termo popular “lei do cão”. O que seria pior: não votar ou vender o voto? Quem vota nulo ou em branco não está sendo “emocional” (mesmo porque os fatos mostram que aqueles que defendem candidatos costumam ser muito mais emocionais), muito menos irresponsável. A maioria dos que o fazem não é apenas por estar “desencantado com a política e com os políticos”. É justamente o oposto: quem vota em branco ou nulo é, geralmente, quem possui maior consciência política e maior esclarecimento sobre o que ocorre no país. Antes de qualquer coisa, está expressando a sua opinião. Felizmente, além do voto direto para diversos cargos públicos, a Constituição nos garante o direito de votar em branco ou anular o voto. Se nenhuma proposta é do agrado de determinado eleitor, por que ele teria que votar em alguém? Só falta agora criarem uma obrigatoriedade de opção pelo candidato A ou pelo candidato B, como se a obrigatoriedade do voto em si já não fosse suficiente. Cidadania é, em sua essência, conhecer seus direitos e seus deveres como cidadão. Num pensamento popular que privilegia os primeiros em detrimento dos segundos e acompanhado de governos que há décadas não produzem nenhum esforço que ajude a mudar essa mentalidade, fica difícil enxergar a verdadeira civilidade. É de um otimismo exagerado, pra não dizer infantil, crer que a simples escolha por um candidato ou partido solucionaria isso. Como se vê: votar em branco ou votar nulo é, muitas vezes, a atitude mais consciente.
Talvez os adeptos de tal opinião prefiram o “voto de protesto” ao voto branco ou nulo – sem sombra de dúvida, uma das maiores imbecilidades já criadas. Para os mais desavisados esclareço: entende-se por voto de protesto, votar em algum candidato extremamente caricato e/ou aparentemente sem qualquer chance de ser eleito, como uma forma de demonstrar toda a sua indignação. Essa atitude tornou deputado Frank Aguiar em 2006, deixou Enéas Carneiro em terceiro lugar na eleição para presidente em 1990 e provavelmente elegerá Tiririca (até o momento desconheço o desfecho da sua avaliação como candidato apto, ou seja, alfabetizado) que lembremos, não é uma pessoa, mas um PERSONAGEM. Sendo bem pragmático, pelo menos votar em branco ou anular o voto não oferece qualquer perigo à população. Apenas ao interesse de alguns candidatos. Talvez aí resida o problema para alguns
Antes que os militantes das suas religiões representadas por siglas e cores comecem a destilar seu ódio, aviso que não sou filiado e nem apoio nenhum partido político. Muito pelo contrário: há anos sou adepto do voto nulo para a maior parte dos cargos que posso escolher. Esse é um direito meu. E um direito que gostaria que se mantivesse até o dia em que o brasileiro finalmente se torne um cidadão realmente político, a ponto de não mais ser obrigado a votar. Portanto, aqueles que me acusarem de qualquer postura política estarão apenas demonstrando sua completa e abissal ignorância, sob o risco de arrancarem gargalhadas de qualquer pessoa medianamente esclarecida. Pelas razões explicadas anteriormente, não vejo problemas em sair da minha residência cedo, em pleno domingo, para expressar minha opinião na urna. Mesmo porque no caminho tem uma feira cujo delicioso pastel eu recomendo.

OS MÉTODOS CIENTÍFICOS

Em Ciência, temos três caminhos principais a serem trilhados, que são os Métodos aceitos como Científicos. São eles o Indutivo, o Dedutivo e o Hipotético-Dedutivo. O ápice desses caminhos é a chamada Teoria Científica. Assim, enquanto um leigo confunde Teoria com Hipótese, considerando-a algo fraco, um mero palpite, no Conhecimento Científico a Teoria é o ponto máximo.
No Ocidente, foi Aristóteles (384-322 a.C.) quem lançou as bases para a Metodologia Científica, fazendo uso pela primeira vez do empirismo (ver meu texto Ciência e Trabalho Científico). Os chineses já haviam feito algo similar mais de 4 mil anos antes, com o I-Ching – que rivaliza com os Vedas o posto de escritos mais antigos da história. Muito mais que um oráculo (este é apenas um dos seus vários aspectos), O Livro das Mutações, como é conhecido, constitui a base de todo o pensamento chinês. Mas foi só na Renascença, mais precisamente no século XVI, com a tradução para o latim dos livros do cientista árabe Ibn al-Haitham (965-1039 d.C.) que os ocidentais começaram a elaborar o seu Método Científico. Os povos árabes já faziam Ciência quando os europeus ainda discutiam metafísica.
Basicamente, todos os três Métodos partem de uma primeira questão subjetiva. Um esquema, para a localização da posição terminal da Teoria pode ser este aqui:

01... Surpresa - Perplexidade
02... Curiosidade
03... Questionamento
04... Referências anteriores
05... Análise

Caminho 1 - Indução:
06... Hipótese
07... Experiência
08... Fatos
09... Dados
10... Qualificação
11... Quantificação
12... Contemplação
13... Informações
14... Síntese
15... Percepção de Leis
16... Teses
17... Testes
18... Integração das Leis à Estrutura e Sistema do Conhecimento Científico
19... Teoria
O Método Indutivo vem caindo em desuso, entre outros motivos, pela sua menor validade empírica em comparação com os outros dois. Acredita-se que seu precursor foi o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626 d.C.), que ampliou a visão aristotélica da natureza.

Caminho 2 - Dedução:
06... Percepção de Leis
07... Hipótese
08... Experiência
09... Fatos
10... Dados
11... Qualificação
13... Quantificação
13... Contemplação
14... Informações
15... Síntese
16... Teses
17... Testes
18... Integração das Leis à Estrutura e Sistema do Conhecimento Científico
19... Teoria
O astrônomo, físico e matemático italiano Galileu Galilei (1564-1642 d.C.) já criticava duramente o aristotelismo e principiou uma análise mais “objetiva” e menos “imaginativa” do universo, utilizando a matemática como principal ferramenta em seus experimentos. Mais foi com o francês René Descartes (1596-1650), famoso filósofo e matemático, que a Dedução realmente tomou forma, abandonando (pelo menos em aparência) as idéias de Aristóteles. Descartes tinha a pretensão de que seu novo método guiasse os princípios de toda pesquisa científica a partir de então.

O Caminho 3, da Hipotético - Dedução; segue basicamente os mesmos passos da Dedução. As diferenças principais é que se deve, juntamente com a Teoria, elevar os critérios de sua corroboração, além de ser amarrada a sua falseabilidade, isto é, aqueles eventos que, se ocorrerem, entrarão em contradição com essa Teoria e a derrubarão. Os princípios da falseabilidade foram estabelecidos pelo filósofo austríaco naturalizado britânico Karl Popper (1902-1994 d.C.), delimitando pela primeira vez de forma precisa a atividade científica. Através desse caminho, a questão da Verdade sucumbe, passando nós a dispor de Teorias que são funcionais mas que, em certo instante, se esgotarão.

Assim, não há O Método Científico, mas há os Métodos Científicos. Algumas áreas da Ciência só permitem a utilização de um destes Métodos (a matemática e a lógica, por exemplo, só permitem o uso do Método Dedutivo), enquanto outras permitem mais de uma possibilidade. Nestes casos, há cientistas que preferem um ou outro dos Métodos. Dificilmente um cientista que trabalha com um Método se sente confortável trabalhando com o outro.

segunda-feira, setembro 27, 2010

SOBRE O DRAGÃO CHINÊS


O dragão desempenha um papel significativo na cultura chinesa. Os antigos acreditavam ser o dragão um descendente dos deuses, com poder para governar o cosmo em sua totalidade – céu e terra. Essa idéia de poder e totalidade também está presente na astrologia chinesa; onde o dragão é o único dos 12 animais cuja natureza seria espiritual e mística. O dragão, representando vida longa e prosperidade, foi geralmente associado ao poder do imperador chinês.

Sorte - Apesar de encarado como uma entidade benfazeja, o dragão, se ofendido, poderia causar desastres naturais ou eclipses solares. Para manter os dragões satisfeitos, os chineses preparavam grandes festivais pedindo por paz e riqueza. A dança do dragão, um antigo ritual de ano novo, é realizada para afastar os maus espíritos e chamar riqueza.

Perfil - Segundo as lendas, os dragões são feitos de partes de diferentes tipos de animais como a cobra, a carpa, o camelo, o cervo, o coelho, o touro, o leão, a rã, o tigre e a águia. As 9 características que identificam o dragão chinês são facilmente observáveis – corpo de serpente, cabeça semelhante à de um camelo, chifres de cervo, olhos de coelho, boca de leão, barriga de rã, escamas de carpa, patas de tigre e garras de águia. O número 9 tem grande importância na cultura chinesa. Ele possui, ainda, um par de dentes caninos longos, feitos para tatear o fundo dos lagos que freqüenta.

Fósseis – Muitos afirmam que a figura do dragão tem sua origem nos fósseis, coletados na China a pelo menos 4.000 anos. Consideravam-se ossos de dragão os restos de dinossauros e outros répteis pré-históricos. Presas de mamutes da Era Glacial eram vistos como dentes de dragões gigantescos. Ainda hoje, há quem acredite que esses “ossos e dentes de dragões” curam doenças.

Escamas e garras - Os dragões da tradição oriental possuem 117 escamas, 81 de polaridade Yang e 36 de polaridade Yin; isso determina seu caráter; Além disso, o número de garras é determinante das tradições de onde eles são oriundos: dragões com cinco garras são chineses, com quatro são coreanos ou indonésios e com três, japoneses. Os dragões de cinco garras simbolizam o poder e, na China, recebem o nome de “dragões imperiais”. Há séculos, inclusive, um decreto imperial proibia qualquer pessoa, à exceção do imperador, de utilizar túnicas com a representação do dragão de cinco garras. Os faltosos poderiam ser condenados à morte.

Cores - As cores dos dragões chineses variam muito; os dragões do tipo Chiao, por exemplo, têm as costas listadas em verde e branco, os lados em amarelo e a barriga vermelha; outros dragões variam do verde ao dourado.

A pérola - Normalmente os dragões chineses são representados com uma pérola junto à boca, entre as garras ou sob o queixo. Aparentemente, a pérola é o elemento que lhe dá força, permitindo que eles subam aos céus. Segundo as lendas, os dragões mais velhos e experientes seriam capazes de escondê-la sob suas escamas. Há quem afirme que, simbolicamente, o dragão representa o elemento masculino – Yang – e a pérola, o feminino – Yin.

O Tigre e o Dragão – Chamam especial atenção algumas representações antigas de um dragão em combate com um tigre, geralmente atracados. Tais desenhos ganharam várias versões modernas nos últimos anos, a maioria com quase nada em comum com os originais. Ocorre que, mais que um simples combate, tal imagem remete aos 8 trigramas do I-Ching e também é considerada uma representação do Tao – o dragão é o senhor dos céus e das chuvas (Yin), enquanto o tigre é o senhor da terra (Yang).

Peixes-Dragão - Alguns dragões teriam nascido como carpas; como esses peixes saltam com extrema habilidade pelas corredeiras dos rios, acredita-se que alguns deles se transformem em peixes-dragão. Há, inclusive, um ditado chinês para indicar o sucesso de uma empreitada que fala de peixes e dragões: “A carpa atravessou o portal do dragão”.

O Dragão-Pai – Dragões machos teriam a habilidade de se acasalar com fêmeas de outras espécies, gerando animais diferentes. Por exemplo: se um dragão se acasala com uma porca, gera um elefante!

Tipos de Dragões - Há quatro tipos principais de dragões: Tien-lung, o dragão celestial, que protege os deuses; Shen-lung, o dragão espiritual, responsável  pelas chuvas e ventos;  Ti-lung, o dragão da terra, que controla os rios e as águas na Terra; e Futs-lung, o dragão dos subterrâneos, que guarda metais e pedras preciosos. Além disso, há quatro dragões ligados aos rios, conforme a região (norte, sul, leste e oeste). O comandante dos dragões que controlam os rios é o grande Chien-Tang, que possui sangue vermelho, uma juba de fogo e 900 pés de comprimento.

Os nove filhos do Dragão - Segundo uma antiga lenda chinesa, o dragão possui 9 filhos com características muito especiais. São eles Haoxian, um dragão imprudente; Ya-zi, valente e belicoso (normalmente é usado na decoração das bainhas de espadas e punhais); Chi Wen, que está sempre olhando para o horizonte (muito usado na decoração de pináculos); Pu Lao, que gosta de rugir (aparece em representações de sinos); Bixi, que gosta da companhia de outros seres (muitas vezes representado junto a animais); Qui Niu, que gosta de música e é normalmente representado em instrumentos de cordas; Suan Mi, que gosta de fumaça e fogo e é representado em queimadores de incenso; e Jiao-tu, que vive enrolado como um caracol e pode ser utilizado na decoração de portas.

A dieta do Dragão - Dragões são famintos por alimentos como bambu, leite, nata, carne de andorinha e arsênico (!). Normalmente não costumam devorar pessoas; ainda assim, a tradição diz ser arriscado andar de barco depois de ter comido carne de andorinhas. Guiados pelo cheiro, eles seriam capazes de engolir uma pessoa inteira! Outro fato interessante: segundo a tradição, em 1611 a.C. o imperador da China nomeou o primeiro “tratador de dragões do reino”, encarregado de deixar alimentos em lagoas sagradas. O cargo gozou de enorme prestígio por séculos.

Artes marciais – No século V d.C. os monges do templo Shaolin criaram um estilo de Kung Fu baseado nos movimentos do dragão. Uma lenda conta que um dragão ensinou diretamente este estilo a um dos monges mais graduados do templo. Ao lado do tigre, da garça, da serpente e do leopardo; formavam “As Cinco Bestas de Shaolin”, os cinco primeiros e principais estilos do monastério. No estilo do dragão, o praticante faz uso de combinações rápidas de ataque e defesa, com as mãos imitando as garras da lendária criatura. Em muitos movimentos deste estilo, parece que o praticante está movendo uma grande esfera em suas mãos; numa clara referência à pérola.

Fontes:

DIVIDIDOS POR UM OSSO

Baseado em original publicado pelo autor em 2004.

Depois de explicar o que seria um dinossauro (vide post do dia 24 de setembro), venho hoje apresentar os dois grandes grupos em que esses animais são divididos, segundo critérios da classificação biológica.
Denomina-se taxonomia o ramo da biologia responsável pela classificação dos seres vivos. O ato de classificar as espécies vem desde a Antigüidade (vide Aristóteles e Buda), mas só foi encarada de forma sistemática e científica a partir do sueco Carl Von Lineé (1707-1778), mais conhecido pelas versões latinizadas de seu nome: Carolus Linneaus ou simplesmente Lineu. Esse grande naturalista criou um sistema de classificação baseado em termos na maioria em latim, que é utilizado até hoje, com alterações mínimas.
Em taxonomia, os dois grandes grupos em que são divididos os dinossauros pertencem à categoria denominada Ordem. Exemplos de Ordens entre os mamíferos são os cetáceos (baleias e golfinhos), roedores (ratos, esquilos, capivaras e similares) e os primatas (lêmures, társios, lóris, todos os macacos e o homem). Como vimos no texto sobre a definição desses animais, os dinossauros representam uma Superordem (Deinosauria). O prefixo super (assim como outro bastante comum, sub) é utilizado em taxonomia para representar categorias intermediárias entre as principais (filo, classe, ordem etc), caso os especialistas percebam tal necessidade – em algumas situações não há intermediários entre essas categorias.
O principal critério utilizado para a definição dos dois grandes grupos é a estrutura da cintura pélvica; mais precisamente a posição do osso denominado púbis, presente no esqueleto de todos os vertebrados terrestres dotados de membros posteriores, inclusive nós. Com base nisso, a taxonomia divide a Superordem Deinossauria nas Ordens Saurischia e Ornithischia. Obviamente, seguindo a metodologia taxonômica, dentro de cada uma destas Ordens há outras subdivisões, que deixarei para abordar noutra ocasião.



Os saurísquios (saurus = réptil e ischius = quadril) foram os primeiros a surgir na história evolutiva, no início do período Triássico; à cerca de 220 milhões de anos. Caracterizam-se anatomicamente pelo púbis voltado para frente, à semelhança da maioria dos outros répteis. Todos os dinossauros carnívoros e onívoros, bem como os grandes herbívoros saurópodes de pescoço longo (como o Apatossaurus e o Diplodocus), compõem este grupo.


Os ornitísquios (ornitho = ave e ischius = quadril) apresentam o púbis voltado para trás, paralelo ao osso denominado ísquio. Esta estrutura anatômica torna a bacia pélvica desses animais muito semelhante a das aves. Todos os dinossauros pertencentes a este grupo são herbívoros. Os primeiros surgiram no início do período Jurássico, ä cerca de 200 milhões de anos, como herbívoros pequenos e bípedes. Fazem parte desta Ordem todos os herbívoros bípedes (inclusive os hadrossauros), os estegossauros, nodossauros, os "blindados" anquilossauros e os ceratopsídeos dotados de chifres.


Cladograma mostrando a evolução e possíveis relações de parentesco (filogenia) dos dinossauros (modificado de Benton, 1990).


Curiosamente, as aves evoluíram a partir dos Saurischia e não dos Ornisthischia. Fósseis das primeiras aves autênticas como o Hesperornis e o Sinornis, indicam que a cintura pélvica desses animais dotados de dentes era ainda muito parecida com a dos seus antepassados terópodes (grupo dos dinossauros carnívoros). A anatomia pélvica das aves e dos dinossauros ornitísquios é um dos maiores exemplos do fenômeno conhecido em biologia como evolução convergente ou evolução paralela; onde seres sem nenhum parentesco, nenhuma ligação evolutiva e por vezes vivendo em locais diversos acabam desenvolvendo estruturas semelhantes.

domingo, setembro 26, 2010

EVENTO: 30 ANOS DE COSMOS

Carl Sagan: Um Legado para toda a humanidade.



Nascia há 30 anos uma das séries televisivas de maior sucesso mundial, Cosmos.
Criada por Carl Sagan e sua esposa Ann Druyan, ela foi veiculada pela primeira vez em 1980 nos EUA, chegando dois anos depois ao Brasil.
O grande sucesso da série não era a ficção cientifica com suas naves espaciais ou vidas extraplanetares. Era o contrário.
Carl Sagan conseguiu manter pessoas no mundo inteiro assistindo aos episódios de uma série que falava sobre... Ciência.
Em seus episódios, pudemos conhecer um pouco mais sobre outros planetas, quasares, a vida na Terra, problemas ecológicos, em uma época que poucas pessoas falavam sobre isso.
Cosmos antecipou problemas como o efeito estufa, aquecimento global, falta de água e tantos outros que vivemos atualmente.
Carl Sagan foi um homem sempre a frente de seu tempo, uma ser humano sem medo de errar e que ensinou a gerações a ter amor pela Ciência e acima de tudo, pela própria raça humana.

Serviço

Carl Sagan: Um Legado para toda a Humanidade

Dia: 02 de outubro de 2010
Horário: 9h - 17h
Local: Auditório da Estação Ciência
Endereço: Rua Guaicurus, 1394 - Lapa - São Paulo - Em frente a Estação Lapa da CPTM

Entrada: O evento no auditório é gratuito e sem fins lucrativos. Pedimos aos visitantes que levem 1kg de alimento não perecível que serão doados para a ACDEM. O valor do ingresso para visitar as demais atrações da Estação Ciência é R$ 4,00 (veja valor atualizado no site da Estação).

Organização: Aumanack, Grupo de Ficção Cientifica Alpha e Studio Touche
Apoio: Estação Ciência

Programação:

9h - Abertura da Estação Ciência
9h45 - Abertura do evento
10h 11h50 - Vídeos
• Biografia de Carl Sagan
• Cosmos
12h - Viagem Espacial: É possível a colonização da Lua e Marte ainda para a geração dos 30 anos de Cosmos? - Renato Azevedo, engenheiro eletrônico e escritor

13h - Os Dragões do Éden (livro de Carl Sagan) - Professor Pierluigi Piazzi
14h - Nosso Sistema Solar e Planetas fora Dele - Silvia Reis, do Grupo Alpha
15h - Vida na Terra e Vida Extraterrestre: Como desenvolveu-se a vida na Terra e a visão científica sobre a possibilidade dela existir em outros mundos - Átila Oliveira, biólogo
16h - 30 anos de mudanças em nossa sociedade - Alan Uemura, jornalista e proprietário do site Aumanack
17h - Encerramento
 
VIDA NA TERRA E VIDA EXTRATERRESTRE


Horário: 15h00min
Palestrante: Átila Oliveira

Poucas coisas na Terra são tão fascinantes quanto à diversidade de seres vivos que a povoa. E o surgimento daquilo que conhecemos como vida ainda constitui um dos maiores mistérios da ciência. Embora hoje já se tenha uma idéia de quando a vida terrena começou, ainda não sabemos como este fenômeno tão singular teve origem. O mistério torna-se ainda maior se pensarmos na vida não apenas no nosso planeta, mas no universo. Seria a vida um fenômeno universal ou localizado? Seria a vida uma exceção e não a regra no cosmo? Seria a vida exclusividade do planeta Terra? É possível que haja vida em outros planetas? Existem seres extraterrestres? Se sim, eles seriam parecidos conosco? Existe vida em Marte?
Carl Sagan tinha especial interesse na busca por vida extraterrestre e se uniu a especialistas de diversas áreas numa verdadeira caça a evidências nesse sentido, ao mesmo tempo em que repudiava maneiras nada científicas fazê-lo. Tal atitude pioneira é considerada a semente da área de pesquisa científica interdisciplinar hoje conhecida como Astrobiologia ou Exobiologia.
Numa abordagem puramente científica, incluindo a explicação do que é a ciência e como ela funciona, bem como o que diferencia a ciência de verdade da pseudociência, esta apresentação visa o esclarecimento do que é vida e o processo pela qual ela se modifica e se adapta. Serão apresentados o conceito de vida, a história da vida na Terra, os mecanismos evolutivos (incluindo desmistificações de algumas idéias equivocadas que o público não especializado possui sobre os mesmos), a possibilidade de vida fora da Terra e as pesquisas nessa área. Também serão tratadas informações errôneas e idéias deturpadas, propagadas ao longo das últimas duas décadas pelas pseudociências, referentes à vida extraterrestre.


Referências:

  • ASIMOV, Isaac, Civilizações Extraterrenas, Nova Fronteira, 1980.

  • DAWKINS, Richard, A Grande História da Evolução, Companhia das Letras, 2009.

  • GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, Record, 2010.

  • GOULD, Stephen Jay, Darwin e os Grandes Enigmas da Vida, Martins Fontes, 1992.

  • GOULD, Stephen Jay, Vida Maravilhosa, Companhia das Letras, 1991.

  • SAGAN, Carl, Cosmos, Villa Rica, 1983.

  • SAGAN, Carl, O Mundo Assombrado Pelos Demônios, Companhia das Letras, 1995.

  • WARD, Peter D. e BROWNLEE, Don, Terra Rara, Campus, 2000.

Na WEB:

sexta-feira, setembro 24, 2010

O QUE É UM DINOSSAURO?

Baseado em original publicado pelo autor em 2004.

Embora todos nós tenhamos uma idéia do que seria um dinossauro, para a grande maioria não é nada fácil defini-los. Muitos equívocos são cometidos nesse sentido. É comum pessoas afirmarem que dinossauros seriam todos os répteis extintos ou mesmo todos os animais pré-históricos.
O termo dinossauro (do grego deinos = terrível + saurus = lagarto) foi utilizado pela primeira vez pelo geólogo e anatomista inglês, Sir Richard Owen (1804-1892), em 1841. Naquela época, em plena Inglaterra pré-vitoriana, os primeiros estudos realmente científicos envolvendo os fósseis, em meio a uma série de novas descobertas, fizeram com que a princípio tais animais fossem vistos como enormes e ferozes predadores. Hoje sabemos que o próprio termo dinossauro não é dos mais adequados: por um lado, eles não se pareciam muito com os répteis atuais; por outro, nem todos eram terríveis. As próprias reconstituições da época não correspondiam a real aparência desses animais. O preconceito generalizado (ainda fortemente presente no senso comum) de que tudo que está hoje extinto deveria ser de alguma maneira “inferior” e “incompleto” quando em vida, aliado à falta de parâmetros e referências para comparações anatômicas (tendo em vista que até então não se conhecia nada parecido), fez com que espécies como o Megalosaurus e o Iguanodon fossem retratados como imensos lagartos carnívoros (veja abaixo). No caso do Iguanodon, assim batizado pelo fato dos seus dentes assemelharem-se aos dessa família de lagarto, a coisa foi um pouco pior. Um osso pontudo, na verdade a falange distal (“ponta do dedo”) do primeiro dedo ("polegar")dos membros anteriores, foi erroneamente interpretada como um chifre. O fato de existirem iguanas com chifres no focinho, similares ao dos rinocerontes (e para os seus descobridores na época, o Iguanodon era pouco mais que uma iguana extraordinariamente grande) certamente contribuiu para tão equivocada análise. Ainda hoje podem ser vistas estas esculturas em concreto, obra de Benjamin Waterhouse Hawkins (1807-1894), no Crystal Palace Park, em Londres.




Modelo de uma das esculturas de Iguanodon do século XIX. Note o “chifre” no focinho.

Mas o que caracteriza um dinossauro? Segundo a taxonomia (ramo da biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos), os dinossauros são uma Superordem dentro da classe dos répteis (Reptilia); a Superordem Deinosauria. Para que um animal pré-histórico com "cara de réptil" seja considerado um dinossauro é preciso que apresente certas características. Ocorre que algumas delas são muito específicas, como detalhes em determinados ossos. Para não incomodar o leitor não especializado, optei por selecionar sete características relativamente fáceis de observar em qualquer reconstituição ou réplica de esqueleto. Para ser classificado como dinossauro, o animal em questão deve possuir todas estas sete características, já que há outros grupos animais que compartilham uma ou outra delas, como veremos a seguir.

Características de um dinossauro:

1. Réptil – Embora se saiba que alguns dinossauros carnívoros se pareciam mais com as aves (suas descendentes) do que com os répteis e que exista até uma corrente de cientistas querendo reclassificar os dinossauros como um grupo à parte (ou mesmo um grupo maior, que incluiria as aves); por enquanto eles ainda são considerados como pertencentes à classe Reptilia: parentes distantes dos lagartos, serpentes, crocodilos, jacarés e tartarugas.

2. Animal terrestre – Dinossauros não voavam. Nem viviam na água, feito peixes ou baleias. Eram animais exclusivamente terrestres, embora provavelmente a maioria das espécies soubesse nadar muito bem, à semelhança dos mamíferos de hoje. Os répteis voadores (pterossauros) e os marinhos (como os plesiossauros e os ictiossauros) eram de fato répteis, mas não eram dinossauros.

3. Membros longos e posicionados abaixo do tronco – Alguns répteis rastejam. Outros, como os crocodilos e o dragão de Komodo, erguem o corpo do chão, mas mantém as pernas lateralmente, em ângulo reto com o tronco. Os dinossauros, como os mamíferos e aves, apresentam membros longos e fortes, situados embaixo do tronco (e não lateralmente), o que certamente facilitava a locomoção, permitindo que algumas espécies atingissem grande velocidade.

Esquema mostrando a diferente posição dos membros de um réptil típico (esquerda) e de um dinossauro (direita).

4. Postura digitígrada (“nas pontas dos pés”) – Todos os dinossauros locomoviam-se apoiando na parte anterior das suas patas, sobre os dedos. As aves locomovem-se da mesma forma em terra. Alguns mamíferos, como os felinos e os cavalos, adotaram a mesma postura ao longo da sua evolução, enquanto outros, como os ursos e o homem, são plantígrados, apoiando-se sobre toda a planta do pé.

5. Quinto dedo ausente nos membros posteriores; quarto e quinto dedos extremamente reduzidos ou ausentes nos membros anteriores – Na verdade, apenas as espécies mais antigas e basais apresentam o quinto dedo nos membros anteriores (o equivalente ao dedo mindinho humano), estando o mesmo ausente naquelas que vieram depois. Houve uma especial diminuição no tamanho dos membros anteriores, bem como no número de dedos, entre os dinossauros carnívoros: a grande maioria das espécies conhecidas apresenta apenas três dedos (estando ausentes o quarto e o quinto). O extremo dessa característica foi atingido na família Tyrannosauridae (a qual pertence o célebre Tyrannosaurus rex), cujas espécies apresentam apenas dois dedos em braços muito pequenos em relação ao corpo.

6. Aberturas temporais sob a forma de dois pares simétricos (Subclasse Diapsida) – A classe Reptilia divide-se em cinco subclasses, devido à conformação básica do crânio, bem como a quantidade e a posição das aberturas (denominadas fenestras) na região temporal (laterais do crânio, onde se localizam também os ouvidos). Os dinossauros pertencem à subclasse Diapsida, composta por répteis dotados de dois pares de fenestras (di = dois). Também fazem parte deste grupo os pterossauros, crocodilianos, tecodontes (répteis extintos, aparentados aos crocodilianos e prováveis ancestrais dos dinossauros) e todos os lagartos. As serpentes também são Diapsida, mesmo não possuindo ouvido externo, pois descendem de uma família de lagartos, sendo por isso conhecidas como diapsídeos modificados. Foi essa subclasse que originou também as aves – não é incorreto dizer que, de certa maneira, as aves são dinossauros. Os mamíferos, por sua vez, descendem dos répteis pertencentes à subclasse Synapsida (“sy” de simetria), possuidores de um único par de fenestras situadas muito lateralmente. O segundo par de fenestras dos Diapsida (localizados mais ao alto do crânio) tem a função de ancorar músculos do pescoço e mandíbulas.


Detalhes anatômicos de crânios dos tipos diapsídeo (acima) e sinapsídeo (embaixo) - de Università di Padova (1999).

7. Pescoço em forma de “S” – Dinossauros e aves são os únicos vertebrados que apresentam a coluna cervical em forma de “S”. Tal configuração anatômica permite avanço e recuo mais rápido e preciso da cabeça, mesmo nas espécies de pescoço mais curto, além de ampliar consideravelmente a mobilidade da mesma, o que é de grande ajuda em ocasiões como a captura de alimento e a defesa contra inimigos naturais. Essa característica é considerada, juntamente com a postura dos membros (item 3), um dos principais motivos do sucesso evolutivo desses animais (dominaram a Terra por mais de 150 milhões de anos).

Representações do esqueleto cervical de um dinossauro herbívoro (Brachiosaurus, acima) e de um carnívoro (Tyrannosaurus, embaixo), onde nota-se a forma em “S”.




Muitas vezes confundido com um dinossauro, o Dimetrodon grandis era, na verdade, um pelicossáurio; um dos mais célebres membros da subclasse Synapsida. O maior predador de sua época (viveu antes dos dinossauros), alcançando até 3 metros de comprimento, pode ser considerado o "primeiro passo" em direção aos mamíferos.



Reconstituição moderna do Iguanodon bernissartensis, feita para o documentário Walking with Dinossaurs (BBC): um grande herbívoro, podendo atingir até 12m de comprimento, capaz de se locomover sobre duas ou quatro patas. A grande garra do seu primeiro dedo ("polegar") provavelmente era a sua principal arma de defesa.

Assim que possível, postarei as diferenças entre os dois grandes grupos em que são divididos os dinossauros.


DANCEM, MACACOS!

Este excelente video já é um clássico do Youtube. Fiz questão de incluí-lo entre os meus favoritos no Orkut. Nele, Ernest Cline narra de forma bem humorara o verdadeiro lugar na natureza de uma certa espécie de primata que se considera dono do planeta onde vive e superior a todas as demais formas de vida. Sem sombra de dúvida, um video que é a cara deste blog. Para quem ainda não viu ou quer conhecer (legendado):

sábado, setembro 18, 2010

CIÊNCIA E TRABALHO CIENTÍFICO



Ciência. Este termo (originário do latim scientia = conhecimento; do verbo scire = saber) parece apresentar diversos significados, devido às diferentes finalidades com o qual é utilizado. Muitas vezes apresentado sob um status de superioridade ou sob a forma de verdades incontestáveis, o conhecimento científico sempre esteve presente, com relativa freqüência, nos meios de comunicação. Nas obras de ficção, a ciência muitas vezes tem um importante papel na explicação de fenômenos inerentes à trama, sejam estes reais ou apenas criações do autor da mesma. Nos últimos anos, a mídia tem apresentado de forma bastante acessível, conceitos e descobertas relativas a esse campo do saber.
De acordo com os maiores dicionários, ciência seria: 1. conjunto organizado de conhecimentos relativo à determinada área do saber, caracterizado por metodologia específica; 2. conhecimento que se obtém através de leituras, de estudos; instrução, erudição; 3. conhecimento prático para uma dada finalidade. As duas primeiras definições se aplicam ao que se costuma chamar de trabalho/conhecimento científico (ou acadêmico), enquanto a terceira se refere ao conhecimento ou perícia de modo geral. Contudo, o senso comum muitas vezes apresenta idéias equivocas quanto à definição de ciência, seu funcionamento e suas áreas de atuação. Boa parte de nós vê os cientistas como uma elite detentora de uma suposta “verdade absoluta” ou que a ciência teria “respostas para todos os mistérios”. Alguns, especialmente os mais dogmáticos, vêm na ciência uma inimiga da fé (ou mesmo de Deus). E ainda há aqueles que duvidam da sua eficácia, pelo fato de algumas das suas hipóteses e teorias antigas terem perdido força ou sido modificadas, diante de novas descobertas. De alguma forma, estes últimos pensam que a invalidação de uma hipótese ou teoria científica invalidaria o trabalho dos profissionais da área científica como um todo. Utilizam erroneamente o termo teoria para descrever algo equivalente ao mero “achismo”, uma suposição sem embasamento. Todas essas idéias nascem do desconhecimento. A própria definição dos dicionários é por si só insatisfatória, por não cobrir todas as especificações.
Mas o que é ciência, afinal? Como poderíamos classificar um determinado conhecimento como sendo científico? Para responder estas questões é preciso primeiro definir o procedimento pelo qual a ciência adquire e elabora o seu conjunto de informações. O conhecimento denominado científico baseia-se em certos princípios e numa seqüência ordenada de processos.
Primeiramente, é importante frisar que a ciência é o estudo do mundo material e tudo decorrente deste, como as diversas formas de energia e o comportamento de indivíduos ou sistemas. Logo, a ciência lida apenas com aquilo que é mensurável. Tudo aquilo que não pode ser medido ou quantificado de alguma maneira não faz parte do escopo da ciência. Isso explica porque fé e ciência não são de forma alguma incompatíveis, uma vez que a idéia de divindade ou qualquer conceito equivalente não podem ser abordados pelos mecanismos científicos, justamente por não ser algo mensurável. Entretanto, a ciência é a única maneira viável de lidar com tudo o que é mensurável. É necessário ter isso em mente para compreender a ciência como um todo
Faz parte fundamental da ciência a existência de um método. O tal “método científico” na verdade é constituído por três métodos diferentes: dedutivo, indutivo e hipotético-dedutivo. O chamado método indutivo tem caído em desuso nas últimas décadas. Tal diversidade é perfeitamente compreensível, se lembrarmos que as muitas áreas da ciência não podem fazer uso de metodologia idêntica para analisar coisas tão distintas quando as partículas subatômicas e o comportamento humano. Prometo abordar detalhadamente tais métodos num texto futuro.
Outra característica da ciência é o senso crítico. Qualquer pessoa pode entender o funcionamento do motor de um automóvel. Contudo, um exame científico do mesmo não se resumirá a uma idéia geral do seu funcionamento, e buscará todos os detalhes químico-físicos envolvidos no processo. Durante o seu trabalho, o cientista tentará responder aos diversos “Como?”, “Onde?”, “Quando?” e “Por quê?” que surgirão. Para muitas destas perguntas, não obterá respostas (pelo menos não de imediato), mas tentará chegar o mais perto disso quanto possível. A organização também faz parte do trabalho científico. Embora muitas vezes o cientista analise fatos isoladamente, ele não restringe suas descobertas apenas a estes. Seu trabalho é organizado de modo a unir conceitos e idéias que tratem de assuntos correlatos, bem como separá-los e classificá-los por meio de regras próprias. Com isso, aparece também como uma característica da ciência a generalidade: o fato da ciência trabalhar sempre com um conjunto de idéias que, muitas vezes, remetem a outro conjunto de idéias, mas nunca com idéias totalmente isoladas. Pra estudar um ecossistema, por exemplo, o cientista (no caso um biólogo ou ecólogo) precisará ter um conhecimento ao menos geral da flora, fauna e das condições físicas e climáticas que caracterizam o mesmo.
Como última característica fundamental da ciência encontra-se o prognóstico: com base nas teorias e leis já existentes, um cientista pode tentar prever, de modo organizado e lógico, eventos futuros relativos à sua área de estudo.
Muitas vezes o objeto de estudo de uma determinada ciência não é algo físico ou “palpável”. Por esse motivo, as ciências são divididas primeiramente em naturais (que tratam de fenômenos da natureza; caso da física, da biologia e da geologia) e humanas (que tratam de aspectos referentes à espécie humana, geralmente não-materiais, como a filosofia, a psicologia ou a sociologia). Mas e a matemática? De fato, a matemática se enquadra em todos os conceitos que caracterizam uma ciência; mas o seu objeto de estudo (os números e as diferentes formas de se trabalhar com eles) não pertence ao mundo real, existindo apenas na mente humana. Os números constituem a maneira que o Homo sapiens encontrou para medir o universo. Mas, é importante lembrar, não faz realmente parte deste mesmo universo. De fato é inegável a importância da matemática como ferramenta em outras ciências; como a física, a economia e a estatística. Mas o que um físico, economista ou estatístico faz não é matemática; ele apenas usa as suas propriedades como auxílio ao método correspondente. Lembremos que as representações dos números são apenas isso, representações; não significando de forma alguma que eles realmente existam na natureza. Então seria a matemática realmente uma ciência? A resposta é sim. Ocorre que a matemática, juntamente com a lógica, compõem o grande grupo denominado ciências abstratas (ou ciências “formais”); pelo simples fato dos seus objetos de estudo serem realmente “abstratos”, não existindo no mundo real. As ciências naturais e humanas compõem as chamadas ciências factuais (de factus = fato) ou empíricas (de empiria = experiência). A divisão entre os dois grandes grupos é algo arbitrário, pois sabemos que existem sobreposições (como o próprio uso de procedimentos matemáticos em outras ciências). Um grande número de filósofos da ciência não compartilha desta classificação. Contudo, o caráter abstrato da lógica e da matemática é indiscutível. Costuma-se dizer que as ciências factuais lidam com o “conteúdo” do conhecimento científico, enquanto as ciências abstratas lidam com a “forma” com que o mesmo é estabelecido.
O trabalho das ciências factuais baseia-se numa seqüência que pode ser resumida da seguinte forma: observação, curiosidade, questionamento, formulação de uma hipótese, registro, referências anteriores, teste da hipótese com base em dados coletados ou experimentação, revisão da hipótese e confirmação da hipótese. Este exemplo está propositalmente simplificado para evitar entrarmos em detalhes que poderiam aborrecer o leitor não familiarizado. As ciências abstratas não apresentam alguns destes procedimentos como, por exemplo, a observação direta, uma vez que todo o processo é efetuado na mente do cientista, utilizando para isso o método dedutivo. A observação direta muitas vezes é inviável em algumas ciências; como a astronomia, a física quântica ou a paleontologia. Nesses casos, faz-se uso de meios indiretos, como microscópios, telescópios e comparações. Além da observação espontânea, existe a observação experimental (provocada), utilizada muitas vezes pelo cientista para efeitos de comparação e somatória de dados. Obviamente, muitas vezes o cientista já possui uma série de conhecimentos anteriores que seriam úteis no presente trabalho, e que, por sua vez, determinam os próprios rumos da observação. A este conjunto de conhecimentos pré-estabelecidos dá-se o nome de marco teórico.
É fundamental que uma hipótese científica confirmada possa ser novamente testada por qualquer cientista que quiser verificar sua validade. Se assim não for, então não se está fazendo ciência. Esta é uma das principais diferenças das verdadeiras ciências para as pseudociências – estas últimas, justamente por não descreverem fenômenos reais, jamais permitem a reprodução das suas hipóteses. Uma hipótese confirmada por várias fontes científicas torna-se uma Teoria Científica. Portanto, ao contrário do que dizem alguns leigos, a Teoria é o ápice do pensamento científico e não um mero palpite.
Por outro lado, é também importante não confundir teoria científica com Lei Científica. Enquanto a primeira é uma criação humana para explicar algum fenômeno da natureza, a segunda é um aspecto da natureza (não uma criação humana) que pode ser descrito por um postulado baseado numa teoria (daí o nome Lei). Um exemplo clássico seria a Lei da Gravidade, um fenômeno natural que pode ser expresso por uma explicação originária das teorias de Isaac Newton.
Na história das ciências factuais, teorias novas muitas vezes complementam ou mesmo substituem pressupostos anteriores. Quando se trabalha com o mundo real ou, no caso das ciências humanas, com acontecimentos e idéias que surgiram a partir da interpretação deste, novas descobertas sempre serão feitas. Se os cientistas já soubessem tudo, não teriam porque continuarem trabalhando. Pensando por esse prisma, é um tanto presunçoso imaginar teorias científicas definitivas. Nas ciências abstratas, e apenas nelas, existem teorias e leis definitivas e indiscutíveis: todo mundo sabe e não há meios de contestar que dois mais dois é igual a quatro. Já nas ciências factuais as teorias são provisórias. Obviamente, pode ocorrer de algumas se tornarem permanentes, mas os cientistas não contam (e nem deveriam contar) com isso. E velhas teorias ainda possuem sua serventia. Sim, pois muitas delas constituíram o passo inicial de primorosas descobertas posteriores. O modelo atômico moderno jamais teria surgido se antes Bohr e Rutherford não tivessem estabelecido os seus modelos em suas respectivas épocas. Excluir completamente teorias passadas como se fossem lixo é, no mínimo, ingênuo.
Certamente, a ciência não tem respostas para tudo. Na verdade, esse nem mesmo é o seu objetivo. Os profissionais da ciência tentam compreender o mundo que os cerca e fazem uso das ferramentas que dispõem para isso. Caso a resposta não surja, tentam chegar sempre o mais perto dela possível. E se mesmo assim ela demorar a aparecer, isso não constitui problema algum. Como disse certa vez Albert Einstein; o mais importante não é obter todas as respostas, mas sim compreender todas as perguntas.

NOVO HABITAT

Aqui estou. Depois de quase sete anos do seu "nascimento", o Pegadas de Um Dinossauro do Século XXI retorna em novo endereço, com nova cara e nova abordagem. Afinal, nada é para sempre. E a exemplo da própria natureza, sempre mutável, este blog também sofreu algumas alterações. A partir de hoje, estarei postando neste novo habitat, pelo menos uma vez por semana.
Primeiramente, gostaria de esclarecer que de agora em diante, este humilde espaço seguirá o seu conceito original, abordando principalmente temas relacionados à paleontologia, zoologia e evolução biológica. Isso será feito por meio de textos da minha autoria, além de links para sites e blogs interessantes e comentários sobre descobertas e publicações. E tudo da maneira mais didática que este sáurio que vos escreve puder realizar, uma vez que sempre me dirigi a um público formado em sua maioria por leitores não especializados. Também serão reapresentados textos meus publicados em anos anteriores que tiveram repercussão e aceitação muito boas – confesso que, em certos casos, bem maior do que eu esperava.
Claro que não ficarei restrito a esta temática. Como todo nerd que se preza, postarei ocasionalmente sobre outros temas do meu interesse. Contudo, a história da vida em nosso planeta aqui terá prioridade. Aviso aos leitores que acompanham este blog desde o seu antigo endereço que certamente notarão que alguns assuntos anteriormente abordados com freqüência agora ficarão de fora. Tal exclusão tem um motivo simples: pretendo futuramente criar novos blogs, "filhos" deste e provavelmente temáticos, onde abordarei especificamente tais temas. Veremos se a realização de tal intento será possível.
Para ficar mais claro o foco do blog, segue uma pequena lista das coisas que certamente os visitantes JAMAIS encontrarão por aqui. Serve para se ter uma idéia melhor dos futuros posts. Aos velhos conhecidos: prazer em contar novamente com vocês. Aos novos visitantes: sejam todos muito bem vindos Como sempre, comentários serão apreciados. Espero poder compartilhar muito com todos vocês.


O que vocês jamais encontrarão neste blog:

1. Críticas e comentários sobre tudo.
Não esperem encontrar neste espaço textos sobre ciência política, história da arte, futebol, teoria musical ou física quântica – muito embora eu seja da opinião de que é da obrigação de todo e qualquer cientista, e não apenas dos físicos, o conhecimento dos fundamentos básicos desta última. Há pessoas muito mais capacitadas para comentar certos assuntos. Nadando contra a corrente do mundo globalizado e conectado de hoje, onde todo mundo parece ter uma opinião formada sobre tudo, eu me restrinjo àquilo que sei que posso contribuir de alguma maneira. Meu conhecimento sobre muitos assuntos limita-se às intersecções dos mesmos com minha área de formação. Sou um profissional especializado, não um super gênio polivalente. Que a tarefa de meter o bedelho em tudo continue com os nossos já famosos pantólogos (especialistas em tudo e no todo): os Mainards, Carvalhos, Pereira Juniors e outros ícones da pseudointelectualidade brasileira.

2. Senso comum.
Quem me conhece sabe. Portanto esse aviso vai para os novos visitantes. Não esperem que eu demonstre aqui uma opinião igual a da maioria ou que eu defenda algo só porque “todo mundo acha legal”. Muito menos que eu me manifeste contrário a algo só para ser o indivíduo “do contra”. Opiniões precisam e devem possuir embasamento. Infelizmente, sinto muita falta disso na web, especialmente entre os mais jovens; que preferem repetir palavras, feito mainás histéricos, muitas vezes sem saber sequer o que estão dizendo.

3. Politicamente correto.
A cada dia cresce a minha impressão de que estamos entrando numa ditadura do politicamente correto. A liberdade de expressão corre sério perigo, em nome de uma suposta democracia. Faz cada vez mais sentido a afirmação de que o oprimido de hoje é o opressor de amanhã. Estão querendo até controlar o senso de humor das pessoas! Qualquer semelhança com 1984 de George Orwell ou com o RPG Paranóia (“Você é feliz, cidadão?”) não parece mera coincidência. Do jeito que a coisa vai, dentro em pouco, eu ou você podemos ir presos por uma simples piada contada numa mesa de bar. Não é esse o mundo que eu quero para os meus filhos e netos. Dizer o que pensa está entre os direitos primordiais de um indivíduo. E eu jamais deixarei de exercê-lo aqui. E não, não existem assuntos “espinhosos” ou “proibidos”. Às vezes é preciso cutucar vespeiros para encontrar as soluções para certos problemas. Uma sociedade realmente democrática é formada por indivíduos mentalmente adultos que estejam preparados para essa liberdade.

4. Respostas a agressões e ofensas.
Antes eu gastava boa parte do meu precioso tempo respondendo a provocações e agressões vindas de criaturas menos capazes, especialmente na internet. Até então eu não havia percebido que agindo assim estava dando a esses pobres coitados justamente o que eles mais queriam: atenção. Pessoas que agem desta maneira na verdade sofrem de insegurança e carência atrozes. Na incapacidade de chamar a atenção naturalmente para as suas qualidades ou opiniões, parte-se para a agressão pessoal. De fato, agredir e pichar algo ou alguém é tão fácil que qualquer imbecil é capaz de fazê-lo. Por isso, declaro que possíveis agressões gratuitas a minha pessoa serão sumariamente ignoradas e deletadas. Quer coisa pior para alguém carente? Claro que críticas racionais feitas por pessoas racionais terão a devida atenção. Este item não é para elas.

5. Agressão gratuita.
Conforme explicado no item anterior, agredir é para os pobres de espírito. Não tenho por que fazer aos outros o que não gosto que façam comigo. Considero muito mais digno e útil tentar contribuir com alguma crítica construtiva. Lembrando que crítica é algo bem diferente de ataque. A origem desta palavra está no termo grego crinein, que significa literalmente “analisar critérios”. Portanto, uma verdadeira crítica nunca é (ou ao menos não se pretende ser) uma ofensa. E meu senso crítico continua firme e forte. Pra mim, alguém desprovido do autêntico senso crítico é alguém cuja alma já morreu.

6. Apologias de qualquer tipo.
Compartilho do temor do filósofo Luiz Felipe Pondé com relação a indivíduos uniformizados marchando e gritando palavras de ordem. Esse tipo de gente é muito perigosa, pois quer transformar toda a humanidade em clones seus. Aqueles que não aceitam tal metamorfose tornam-se automaticamente inimigos. Apologias andam de braços dados com o fanatismo; seja religioso, político ou simplesmente ideológico. Simpatizo com algumas causas, assim como discordo de outras. Acima de tudo, sou um indivíduo. E como todo aquele que já passou da adolescência, tenho minha própria identidade. Por isso sempre expressarei aqui a minha opinião, não a de um grupo.

7. Pseudociências.
Numerologia? Astrologia? Abduções? Profecias apocalípticas? Misticismo “quântico”? Esqueçam. Não poluirei meu blog com tais tipos de engodo. Se um destes assuntos surgir por aqui, será apenas para eu mostrar (mais uma vez) toda a sua incoerência.

Abraço para quem for de abraço, beijo para quem for de beijo.
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