Denomina-se criacionismo a crença que se opõe a Teoria da Evolução, defendendo que todos os seres vivos (incluindo o homem) foram criados de uma vez por um ato divino e que a evolução biológica não ocorre. O criacionismo nega completamente a idade da Terra estabelecida pela ciência, existindo mesmo correntes defendendo que a mesma tenha apenas 7.000 anos. Antes de continuar, peço ao leitor que atente para as imagens representadas abaixo (respectivamente, uma charge e uma ilustração de esquemas metodológicos), que já ilustraram diversos sites e blogs de ciência. Clique nas mesmas para vê-las ampliadas.
Além de configurar humor dos mais inteligentes, ambas as imagens são bastante esclarecedoras por si só. Conforme o leitor pode notar, o alicerce do criacionismo consiste em negar veementemente a evolução biológica, em detrimento de todas as evidências em favor da mesma. Também se nota pela comparação entre os dois “métodos” que a negação de tais evidências por vezes chega às raias do absurdo, como se tal comportamento pudesse fazer com que estas deixassem de existir. Isso é real, acredite prezado leitor. Se um criacionista apresenta dez argumentos que ele pensa serem verdadeiros e estes são derrubados por indivíduos que conhecem evolução, ele logo arruma um décimo primeiro argumento, quando este é derrubado logo trata de arrumar um décimo segundo, e assim sucessivamente, num processo sem fim.
O leitor também pode concluir que o criacionismo nada tem de científico, pois em geral sequer tenta parecer que faz uso da metodologia científica (ver meus textos Ciência e Trabalho Científico e Os Métodos Científicos). Ao contrário da ciência, o criacionismo é repleto de certezas e não apresenta uma única questão para a qual já não haja uma resposta pronta. Isso não seria nenhum problema se estivesse restrito ao âmbito da fé. O problema, conforme já mostrado, é que o criacionismo visa desacreditar uma teoria científica e, por vezes, a própria ciência como um todo.
O leitor também pode concluir que o criacionismo nada tem de científico, pois em geral sequer tenta parecer que faz uso da metodologia científica (ver meus textos Ciência e Trabalho Científico e Os Métodos Científicos). Ao contrário da ciência, o criacionismo é repleto de certezas e não apresenta uma única questão para a qual já não haja uma resposta pronta. Isso não seria nenhum problema se estivesse restrito ao âmbito da fé. O problema, conforme já mostrado, é que o criacionismo visa desacreditar uma teoria científica e, por vezes, a própria ciência como um todo.
Recentemente, surgiu uma alternativa supostamente científica à teoria darwiniana denominada “Design Inteligente” (DI ou ID no original inglês) e baseada principalmente no livro A Caixa Preta de Darwin, do bioquímico Michael Behe. Trata-se, no entanto, de apenas uma roupagem moderna para o criacionismo. Apesar de se negarem criacionistas e de evitar o uso de termos como “Deus”, “fé” e “divindade”, o que os adeptos do DI fazem nada tem de científico, resumindo-se a procurar evidências (ou, mais frequentemente, distorcê-las) com o único propósito de confirmar as certezas que já possuem – acertou em cheio quem pensou que seriam as mesmas do criacionismo “tradicional”. Seu principal argumento consiste em buscar falhas na teoria evolutiva e defender a idéia de que a existência de um universo e formas de vida tão complexos só seria possível assumindo a existência de uma consciência cósmica superior que os teria planejado (nada mais que uma metáfora nova para Deus). Embora afirmem constantemente que a Teoria da Evolução estaria repleta de falhas, estas obviamente nunca são mostradas. Pelo contrário, é muito mais fácil pegar um conceito e distorcê-lo para que este se torne mais facilmente atacável, constituindo assim a célebre Falácia do Espantalho (ver o texto Sobre Falácias). Outra característica do DI é a tentativa de mostrar uma suposta perfeição e harmonia na natureza, como prova da existência do tal designer. Quem já viu um jabuti ou um besouro rola-bosta virado de costas, no inútil desespero de conseguir endireitar-se, sabe que o seu “design” está longe de ser dos mais inteligentes. E isso também vale pra nós, já que nosso olho, como o de todos os outros vertebrados, apresenta um ponto cego. E qual seria a harmonia presente na interação ecológica em que vespas botam seus ovos em lagartas, que sucumbem em lenta agonia, à medida que são devoradas pelas larvas que eclodem e desenvolvem-se em seu corpo? Mais que isso, a própria história do universo nos mostra que muito do que conhecemos surgiu da imperfeição e não de uma suposta harmonia cósmica. Concluindo, embora tente contestar a evolução de um ponto de vista que pareça a princípio objetivo, o DI estabelece uma origem puramente sobrenatural para o mundo natural, descaracterizando assim qualquer propósito científico que pretenda apresentar.
Além da já mencionada Falácia do Espantalho, outros tipos de falácia são recorrentes nos argumentos criacionistas. Inversão do Ônus da Prova (“Prove-me que a evolução ocorre!”), Ad Nauseam e Apelo à Autoridade figuram entre as mais utilizadas. Ad Hominem também é bastante comum, principalmente na Web. Nesse último caso verifica-se o uso freqüente do que a psicologia e alguns caminhos espiritualistas chamam de projetar a sua sombra: o indivíduo projeta no outro os seus defeitos, com o propósito de torná-lo mais depreciável. Um típico comportamento nesse sentido é acusar profissionais da ciência de arrogância e/ou fanatismo. Mas parece que a última moda no meio criacionista é mesmo apelar para as “teorias” conspiratórias, afirmando que a comunidade científica seria um grande complô que os impede de mostra a verdade. Geralmente, essa conspiração é mostrada como atéia, tendo o propósito de desacreditar Deus. Além de caracterizar um enorme preconceito para com os ateus (mostrados como indivíduos totalmente desprovidos de moral, ética e qualquer noção de limites), tal afirmação constitui uma dupla e desavergonhada mentira. Primeiro, porque a ciência não impede ninguém de mostrar suas teorias, desde que, obviamente, as mesmas sejam realmente teorias, obedecendo à metodologia científica. E segundo porque a ciência não possui nenhum propósito relacionado com a figura da divindade, quanto mais combatê-la (ver meu texto Sobre Ciência e Fé). Na verdade, a maior parte da comunidade científica é formada por pessoas não atéias, denominadas teístas (que possuem alguma forma de fé). Assim, percebe-se que a mais pura desonestidade intelectual é ferramenta das mais importantes no “modus operanti” criacionista.
Sendo assim, podemos concluir que é simplesmente impossível ser criacionista e aceitar a evolução biológica, uma vez que o pilar fundamental do criacionismo é a negação desta. Essa confusão ocorre devido ao fato de muitas pessoas confundirem criacionismo com a simples crença em Deus. Como já foi visto, professar qualquer tipo de fé não torna ninguém criacionista, a não ser é claro que essa fé se baseie na negação do fato que os seres vivos evoluem. É perfeitamente possível ser teísta e aceitar a Teoria da Evolução.
O crescimento do criacionismo em países como os Estados Unidos e o Brasil, nos últimos anos, motivou uma forte e organizada reação por parte da comunidade científica e educadores. Como já era de se esperar, os criacionistas distorcem os fatos a seu favor, acusando seus adversários de perseguição – é comum encarnarem o papel de vítima quando se encontram impossibilitados de executarem suas agressões. A verdade é que são remotíssimas as possibilidades deles alcançarem o poder que tanto almejam, a menos que algum desses países se torne uma teocracia neopentecostal – lembremos que outros segmentos cristãos aceitam sem problemas a evolução biológica. E não há (felizmente) possibilidade disso acontecer tão cedo. Entretanto, não podemos esquecer que algumas escolas mantidas por essas igrejas já ensinam o criacionismo em alternativa à Teoria da Evolução, como se fosse ciência. E suas universidades ensaiam o ensino do DI. Particularmente, penso que já passou da hora disso ser considerado crime, pois desta maneira se está ensinando mentiras aos alunos, e pior, sob o disfarce de teoria científica. Faz parte da nossa obrigação, como biólogos e educadores, combatermos essa farsa. E a melhor maneira de iniciar o combate é ensinando ciência de verdade; esclarecendo, eliminando dúvidas e preconceitos, bem como desmistificando idéias equivocadas. Ao bacharel em Ciências Biológicas que não for capaz disso, sugiro rasgar o diploma e procurar outra carreira.
2 comentários:
Oi Átila! Eu coloquei esse post como referência em meu último post, espero que não se importe ^-^
Claro que não, querida.
Quanto mais gente o ler, melhor.
E adorei seu post.
Beijos.
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